A situação de cheia que afeta a região do Baixo Mondego não provocou feridos e as autoridades advertem que as próximas horas serão cruciais para avaliar o impacto do colapso da margem direita em Montemor-o-Velho.
Em conferência de imprensa, o Comandante Distrital de Operações de Socorro de Coimbra (CODIS) frisou que até ao momento não existiram feridos, situação que decorreu das medidas de prevenção e das evacuações preventivas realizadas ao longo do dia, com a retirada de cerca de 250 pessoas nos concelhos de Coimbra, Montemor-o-Velho e Soure. "Está instalada uma cultura preventiva, que é isso que queríamos e as pessoas têm colaborado com todos os agentes de Proteção Civil", observou o CODIS, Carlos Luís Tavares.
Já sobre o colapso do dique do leito principal do Mondego, Carlos Luís Tavares disse que ocorreu "numa extensão de 100 metros" na margem direita, na zona de Formoselha: "O canal [de rega] desapareceu e a margem também colapsou. Temos a margem do rio e o canal de rega [adjacente a esta] e tudo isto se fragmentou", revelou. No entanto, Carlos Luís Tavares antecipou que a rotura possa não dar grande preocupação, dado que, à partida "as águas vão espraiar para os campos agrícolas" da margem direita. Estes situam-se entre o canal do Mondego e povoações como Montemor-o-Velho, Tentúgal, Carapinheira ou Ereira, que, esta tarde e ainda assim, foram colocadas em alerta máximo.
A rotura "pode vir a aumentar pelo desgaste [provocado pela força da água], no entanto vai espraiar para campos de terra", reafirmou o comandante distrital, embora admitindo que as autoridades terão de aguardar "pelas próximas horas", concretamente ao início da manhã, para perceberem o desenvolvimento da rotura e a quantidade de água que por ali sai em direção à sede de concelho e povoações adjacentes.
O CODIS de Coimbra disse ainda que as autoridades de Proteção Civil não vão desacelerar os mecanismos "de prevenção ou o aviso às populações", nomeadamente para terem "cuidado com a possibilidade do rebentamento [do dique] da margem esquerda".
Já o presidente da autarquia de Montemor-o-Velho, Emílio Torrão, que esteve no local do colapso, indicou que a rotura "é total" e "assinalável". "A água entra diretamente do leito central para os campos, são muitos milhões de litros que estão a entrar", observou o autarca, frisando que a situação de cheia, com caudais que ultrapassaram ao logo do dia o nível de segurança de 2.000 m3/s e se mantêm neste valor "não implica que não venha a haver roturas na margem esquerda". "Enquanto aqui [na margem direita] nos dá um espaço de manobra [pela existência dos campos agrícolas], na margem esquerda o ataque [da água] às populações é muito rápido", alegou o autarca.
A expectativa das autoridades na margem direita é que a água atravesse os campos em direção a Montemor-o-Velho e fique retida nestes e num outro dique (que "é peça-chave" no sistema de defesa) junto à povoação de Casal Novo do Rio e da nova ponte sobre o leito abandonado do Mondego (que substituiu a que colapsou em 2001), perto do Centro Náutico local.
Daí as águas do Mondego poderão chegar, através do tal leito periférico, a uma estação de bombagem perto da localidade de Ereira, onde regressarão ao canal principal, mesmo se Emílio Torrão antecipa "preocupação" com a povoação de Casal Novo do Rio. "E esta água que está a entrar [nos campos] vai demorar semanas ou um mês ou dois a sair, dependendo da quantidade", antecipou.
Populações de Coimbra receberam indicação para sair de casa sem alarmismo~
A Proteção Civil solicitou às populações entre Belcanta e Ameal, em Coimbra, para prepararem, sem alarmismo, a evacuação, na sequência do previsível aumento do caudal do rio, anunciou a estrutura, em comunicado. "Informa-se que a Proteção Civil Municipal está a solicitar à população das povoações de Bencanta; Espadaneira; Pé de Cão; Casais do Campo; Carregais; Taveiro; Ribeira de Frades; Vila Pouca do Campo; e Ameal (indicativamente entre a Linha Ferroviária do Norte e o Rio Mondego) a acondicionar algum material, acautelar os seus bens e a preparar a evacuação", refere uma nota de imprensa enviada à agência Lusa.
A decisão, de acordo com o município, "deve-se à informação transmitida pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) à Proteção Civil Municipal de que o caudal do Rio Mondego, que atualmente está com 2125 m3/s no Açude-Ponte, irá intensificar nas próximas horas, existindo gravidade extrema de cheias e inundações nesta área geográfica".
A Câmara recomenda que a população esteja em "estado de permanente alerta, colabore e a respeite todas as indicações e a sinalização das autoridades". Em caso de necessidade, as pessoas podem dirigir-se para os seguintes locais de segurança: Pavilhão EB 2.3 de Taveiro, Rua Barqueira, Taveiro; Pavilhão Gimnodesportivo d'O Vigor da Mocidade; Pavilhão E.B. 2.3 Inês de Castro, junto ao Instituto do Sangue.