O padre Duarte da Cunha, que é secretário da Confederação das Conferências Episcopais Europeias, com sede na Suíça, foi um dos escolhidos pelo Papa Francisco para participar no sínodo dos bispos sobre a família na qualidade de perito, tendo marcado presença em todo o processo.
À Renascença, o sacerdote destaca aquilo que entende serem os pontos principais do documento final, que se encontra dividido em três secções.
Que leitura é que faz deste documento?
Eu sublinharia, do primeiro capítulo, uma grande crítica ao individualismo, num momento em que o mundo todo tende para o individualismo, a família [surge] como antídoto e, ao mesmo tempo, ameaçada por este individualismo.
No segundo capítulo, focaria a questão da família como uma vocação, quer a vocação do marido e da mulher, que têm a vocação para casar-se, quer a vocação que a própria família tem a ser neste mundo, um sinal de amor e de aliança e, por isso, também a ser aquilo que o capítulo explica, ícone da Santíssima Trindade.
E no terceiro capítulo, diria que a grande força é a insistência na importância do acompanhamento, o acompanhamento dos jovens que se preparam para o casamento, acompanhamento dos casais nos primeiros anos, casais com dificuldades, com filhos doentes, ou com idosos, ou em situações de crise, ou divorciados, ou recasados, portanto acompanhar as pessoas.
Também foi essa terceira parte que suscitou mais apreensões, tendo em conta os votos contra...
A terceira parte era muito pastoral, mas, como se foi vendo ao longo de todo este processo sinodal, pastoral e doutrina - ou pastoral e teologia - não podem estar separados. Por isso é claro que, quando se chegou a esse ponto, do que é que vamos fazer, havia questões que não se podem fazer ou outras que se devem fazer por causa daquilo que é a mensagem de Jesus Cristo, aquilo que Jesus Cristo nos ensinou e aquilo que a Igreja sempre nos transmitiu.
E houve alguns pontos em que não era claro se aquilo que a gente estava a propor era só para agradar ao mundo de hoje ou se era exactamente em fidelidade a Deus. Esse foi o ponto de discussão e de debate e que se viu, claro, também pela votação. Há pontos que ainda vão continuar a ser debatidos e discutidos.
Como foi a experiência de participar no sínodo?
Foi muito interessante ver como tudo funciona. Houve oportunidade para falar com gente de todo o mundo, foi muito interessante. Depois, o documento final. [Ver] como as coisas se fizeram, como as sensibilidades dos bispos foram sendo provocadas. Em certo sentido, vamos vendo como a Igreja é feita através de homens e Deus passa através desses homens. Ás vezes, não percebemos bem como, mas, depois, olhamos para os resultados e pensamos: 'Uau! Deus esteve aqui presente'".
[Notícia corrigida às 12h53. O padre Duarte não participou na redacção do documento final, como erradamente se tinha indicado]