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Entre forças de segurança, pensionistas e combate à corrupção, Luís Montenegro e André Ventura apenas concordaram na última parte do debate desta segunda-feira, transmitido na RTP - até agora o mais longo de todos os debates para as legislativas de 10 de março, com praticamente 40 minutos. Os líderes da AD e do Chega tiveram o embate esperado, cheio de interrupções, e, entre a nega renovada de Montenegro e a porta aberta ao diálogo de Ventura, identificaram o PS e Pedro Nuno Santos como principal adversário.
Após um mês em que a contestação dos agentes e militares da PSP e GNR subiu de tom, Luís Montenegro considera "indiscutível" que há “uma instrumentalização das forças de segurança no discurso do Chega e do deputado André Ventura”, que acusa de “irresponsabilidade programática que tem conteúdo político”.
O líder da Aliança Democrática define como “completamente erradas” as propostas de os agentes “poderem ter filiação partidárias e poderem ter acesso ao direito à greve”, definindo a filiação partidária como “uma tentativa de colocar os partidos políticos dentro das esquadras e dos quartéis”, algo “inaceitável”.
“Aquilo que o André Ventura tem para propor ao país é sindicalizar ainda mais aquilo que é a atividade das forças de segurança”, disse o líder da coligação entre PSD, CDS e PPM, que promete “iniciar o diálogo” para “tentarmos encontrar, do ponto de vista das suas carreiras, da valorização do seu trabalho, do seu estatuto remuneratório, respostas que possam ser adequadas” logo “nos primeiros dias do governo”.
Já o caso do direito à greve, “uma questão debatida há muitos anos, e que coloca em causa o exercício da autoridade das forças de segurança, no caso da GNR ainda tem um outro acrescento. Sendo uma estrutura militarizada, significa que o André Ventura defende também para a instituição militar, para as Forças Armadas, igual direito”, sublinhou Luís Montenegro.
André Ventura – que Montenegro descreveu como “muito decidido a interromper” – considera que as forças de segurança “sabem da traição que o PSD lhes fez e que a AD lhes fez”. Em causa está o momento em que a coligação assumiu que “não se comprometia a atribuir o suplemento que foi atribuído à PJ, e bem, às forças de segurança restantes, que efetuam muitas das diligências”, acusou o líder do Chega, para quem o presidente do PSD tem uma “falta de credibilidade absoluta”.
“Para além da traição que fez às forças de segurança, é não perceber que enquanto este problema não for resolvido, não há nenhum primeiro-ministro que possa olhar para a sua tranquilidade pública, para dar segurança aos cidadãos, e possa dizer que tem a ordem e a tranquilidade pública completamente asseguradas”, avisou o líder do Chega.
Ventura defendeu ainda a proposta do acesso ao direito à greve, assegurando que “há greves de polícias em países como a Bélgica, como a Suíça, países modernos, em que essas greves são feitas com restrições”. E mais uma acusação: Montenegro quer “espezinhar” as forças de segurança.
“Da minha parte, nenhum governo, consigo ou com outro qualquer, persistirá no Parlamento à direita se não der a estes homens e mulheres o suplemento digno que eles têm que receber”, sublinhou André Ventura.
Corrupção entre medidas copiadas e avaliação de políticas
As interrupções constantes entre os dois líderes partidários continuaram quando as agulhas mudaram para o combate à corrupção. Luís Montenegro quer fazer esse combate a “tirar burocracia no Estado, ter um mecanismo de relação mais transparente entre a administração e os cidadãos e as empresas, regulamentar o 'lobbying'” e ainda “criminalizar o enriquecimento ilícito”.
Além disso, o presidente do PSD compromete-se a, “ato imediato, ter um diálogo direto com a PJ, PGR, com o Conselho Superior da Magistratura e fazer uma avaliação” das políticas mais recentes.
André Ventura ouviu e declarou que “o país já desconfiava que a AD não tinha nenhuma proposta para combater a corrupção”. Não só isso, ainda acusou Montenegro de copiar as propostas do Chega e de dizer que “vai fazer agora o que não fez no Parlamento”.
Questionado sobre onde vai buscar os já famosos 20 mil milhões de euros, o presidente do Chega garante que será a “acelerar os mecanismos de apreensão e confisco dos bens de corrupção”, porque só é possível “diminuir” a corrupção “quando os corruptos sentirem que não podem gozar connosco”.
Corte de pensões? Foi quando Ventura “batia palmas ao PSD”
O tema das pensões voltou a surgir num debate com Luís Montenegro, e o líder da AD voltou a ouvir a acusação que recusa.
“O Luís Montenegro foi o líder parlamentar do maior corte de pensões da nossa história”, destacou André Ventura. O líder do PSD, depois de já ter dito que o corte vinha da governação do PS, retorquiu que os eventos aconteceram quando o atual líder do Chega “batia palmas ao PSD”.
Montenegro, que no mesmo momento disse “tenho que me rir de si”, ouviu um contra-ataque do líder do Chega. “Na noite eleitoral vamos ver quem ri melhor”, ripostou o deputado desde 2019, que sustenta a sua proposta como “fazível” ao aumentar em 7% a despesa do Estado “em seis anos, face ao PIB que tivemos este ano”.
“Ninguém acredita na sua subida de pensões”, argumentou também Ventura. Essa subida, explicou Montenegro, consiste em “fazer equivaler o valor de referência do Complemento Solidário para Idosos com 820 euros”, algo que “é realista” e “está estudado”, concluiu, acrescentando que está “disponível para “revisitar as condições de aplicação do CSI, nomeadamente” a contagem do rendimento dos filhos.
O líder da AD advertiu ainda contra a proposta do Chega, cujo aumento das pensões mínimas para o valor do salário mínimo nacional inclui pensionistas sem “mais nenhum rendimento”, assim como “abarca alguém que tenha uma pensão mínima de 300 euros mas tem outro rendimento, por exemplo um rendimento comercial e industrial”.
Montenegro coloca-se à procura da maioria absoluta
Os primeiros 17 minutos do frente-a-frente entre Luís Montenegro e André Ventura foram para esclarecer o cenário político após as eleições legislativas de 10 de março. Questionado sobre a possibilidade de viabilizar um governo minoritário do PS, o líder do PSD enumerou motivos para reforçar o “não é não” ao Chega.
“Por uma questão de princípio, o PSD não alinhará com alguém que tem opiniões racistas, populistas e excessivamente demagógicas”, frisou Montenegro, que descreveu as sucessivas declarações de Ventura como o “grau zero da política” e atirou ao custo de 25,5 mil milhões de euros das propostas do Chega.
Mais: André Ventura “muda de opinião quase todos os dias”, o que o coloca em “dificuldade”: “uma vez é porque quer ir para o governo, outra vez é porque quer um acordo no Parlamento, outra vez é porque nem é uma coisa nem outra, num dia quer apresentar uma moção de rejeição, noutro dia já não apresenta coisa nenhuma”.
“Nós estamos a lutar para ter maioria absoluta”, sublinhou Luís Montenegro, insistindo que não quer depender de ninguém e que, se não ganhar as eleições, não governa e não faz acordo com o Chega.
Em resposta, Ventura sugeriu que Montenegro tem dado “colo e sustento” ao PS, e acusou o PSD de querer “agarrar-se ao poder de qualquer maneira”. “Está a ser o idiota útil da esquerda”, atirou o líder do Chega, que assim “terá sempre a via verde aberta e autoestrada para o poder”.
Apesar dos ataques, André Ventura não deixou de assumir que “o Chega está, como sempre esteve, disponível para conversar”, acusando Montenegro de uma “tremenda irresponsabilidade”. “O Chega procurará uma convergência para afastar os socialistas do poder. O PSD prepara-se para entregar o país ao Partido Socialista”, criticou.
Ventura regressa aos debates já esta terça-feira, frente à coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua (às 22 horas na RTP3). Luís Montenegro apenas regressa na sexta-feira, para debater com Rui Rocha, o líder da Iniciativa Liberal, às 21h na SIC.
[notícia atualizada às 01h26 de 13 de fevereiro]