O último debate entre os candidatos a Presidente da República, organizado pelas rádios Renascença, Antena 1 e TSF, foi morno, pouco clarificador e com um “elefante na sala” – a ausência de André Ventura.
Em declarações à Renascença, Maria Henrique Espada, editora de política da revista Sábado, assume ser difícil dizer “quem esteve melhor ou pior”, dado que os candidatos foram “bastante previsíveis” e o argumentário que levaram para o embate teve pouco de novo.
“Os candidatos deviam ter aproveitado para lançar argumentos novos, basicamente. Não acho que tenha sido um debate muito feliz desse ponto de vista”, nota.
Pedro Benevides, editor de política da TVI, sublinha também que “ao fim de não sei quantos debates” já conhecemos “todos um bocadinho [os candidatos] e já conhecemos o tipo de argumentos que vão dar”.
Segundo Maria Henrique Espada, um dos problemas do debate, “que não é novo”, teve a ver “com a forma como os candidatos abordam o tema de sempre: dariam ou não dariam posse a um Governo apoiado pelo Chega”.
“É uma situação constitucionalmente insustentável, para quem se apresenta numa campanha para o cargo da Presidente da República, que é alguém que tem que defender a Constituição. É uma situação do ponto de vista da própria Constituição é pouco defensável. E depois criaria uma crise constitucional e política sem solução à vista, porque quando não se dá posse a um Governo o que acontece: marcar eleições. Se essas eleições dão um resultado semelhante àquele que o Presidente recusou, o próprio Presidente fica numa situação insustentável. Vai manter em gestão o Governo eternamente? Isso é um absurdo político, um absurdo constitucional”, explica.
O momento: tomada de posição de Mayan
Se fosse Presidente da República, Tiago Mayan Gonçalves garantiu que não daria posse a um Governo que defenda "atentados ao Estado de direito, à Constituição, regresso da pena perpétua". Leia-se: um Governo do Chega. O candidato apoiado pela Iniciativa Liberal cruzou assim, pela primeira vez, uma fronteira política e juntou-se a Marisa Matias e Ana Gomes.
“Uma novidade interessante do debate é que Mayan embarca no mesmo barco. Não é tão taxativo como Marisa Matias ou Ana Gomes, mas vem dizer que avaliadas as condições de Governo. Deixa praticamente João Ferreira e Marcelo do outro lado sozinho como defensores da Constituição. É muito curioso. Acabam por ser eles a ter uma posição mais centrista, face à Constituição. Encontram-se algures ali ao meio”, aponta Maria Henrique Espada.
Pedro Benevides diz também considerar a posição tomada por Mayan como esclarecedora, mas não propriamente surpreendente, tendo em conta a posição da Iniciativa Liberal nos Açores.
“A declaração de que não iria dar posse a um Governo do Chega pareceu-me um bocadinho difícil de justificar. Acho que aqui foi um bocadinho a cedência ao ar dos tempos e que talvez não tenha resistido a dar esse passo”, explica.
O destaque: Marcelo
Para Pedro Benevides, Marcelo Rebelo de Sousa foi o candidato que mais se destacou no debate das rádios.
“Diria que houve um que se destacou, não necessariamente pela positiva, que foi Marcelo Rebelo de Sousa. Foi talvez mais longe nas críticas que fez quer ao Governo, quer ao próprio PSD no caso dos Açores. Se houve alguma surpresa neste debate, foi a forma como Marcelo Rebelo de Sousa criticou o Governo por não ter antecipado e planeado melhor o aparecimento de uma terceira vaga. E pela forma como responsabilizou o PSD por ter posto o Chega no plano central da vida política”, diz.
O perdedor: André Ventura, o candidato ausente
Apesar de ausente, André Ventura e o Chega foram tema de debate. “Acho que não há forma de não falar. André Ventura tornou-se um bocadinho o elefante na sala nesta campanha, embora perceba quem critique se dê demasiada atenção”, diz Maria Henrique Espada.
Segundo Pedro Benevides, o candidato que esteve pior no debate foi mesmo o que não compareceu: André Ventura.
“Ou não teve coragem para ser confrontado pelos adversários com aquilo que tem estado a fazer na campanha ou não teve organização para rearranjar a campanha como todos os outros fizeram para poder estar a fazer parte de um debate destes. Ele tem, goste-se ou não, tem conseguido marcar a agenda e pôr todos os candidatos a falar dele. Acho que a presença dele era necessária. Cheirou um bocadinho a cobardia não ter aparecido neste debate, talvez a calculismo político. Portanto, diria que o candidato que pior esteve foi claramente aquele que não quis comparecer”, diz.