A insegurança que se vive em Pemba, Cabo Delgado, está a levar à saída de congregações religiosas daquele território.
O medo de que possa acontecer a qualquer momento, um ataque em Pemba, apesar da presença no local de efetivos militares das Forças de Defesa de Moçambique, tem-se vindo a acentuar e algumas congregações religiosas procuram transferir-se para outras províncias moçambicanas mais distantes do epicentro da ameaça jihadista.
O responsável pela comunicação da Diocese de Pemba, o padre Kwiriwi Fonseca, confirma à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre que existe esse sentimento de receio e que há mesmo quem procure pôr em prática um “plano B” face à ameaça de um possível ataque na própria cidade.
“A diocese de Pemba sabe que o povo de Cabo Delgado vive a questão do medo, da insegurança [perante] um ataque, por exemplo, à cidade de Pemba. O que nós sabemos e estamos também a rezar bastante é para que isso não venha a acontecer, mas, por outro lado, estamos a precaver-nos, procurando cada um o seu ‘plano B’, talvez [indo para] outra cidade…”, conta o sacerdote à Fundação AIS.
O “plano B” de que fala o padre Fonseca já foi posto em prática por alguns elementos de congregações femininas.
De acordo com o sacerdote, “uma ou outra congregação feminina [já] saiu para outro local, principalmente aquelas que têm casas de formação… Perceberam que [Pemba] não é hoje um local seguro”.
Também o bispo de Tete, D. Diamantino Antunes, dá conta à fundação pontifícia que recebeu “um apelo urgente de uma congregação de irmãs que estão em Cabo Delgado e que não se sentem tranquilas em viver naquele contexto, com medo de possíveis ataques”, acrescentando que as religiosas “pediram à diocese de Tete se as podia acolher, para poderem exercitar [aí] a sua atividade missionária”.
O receio e o medo parecem ter-se instalado após a divulgação de um relatório da Pangea-Risk, empresa consultora de segurança, dando conta que “a capital provincial Pemba e a cidade costeira da Tanzânia, Mtwara, [estão] expostas a ataques dos militantes nos próximos meses…”
Embora o receio de algum ataque de envergadura, à semelhança do que aconteceu, por exemplo, no ano passado em Mocímboa da Praia, e em março deste ano, na vila de Palma, a Igreja procura evitar sinais de pânico.
O próprio Administrador Apostólico de Pemba está empenhado em evitar alarmes. Segundo o padre Fonseca, “uma das coisas que D. Juliasse pediu é que nós não entrássemos em pânico, encarássemos isto como um desafio” e a maioria do clero não dá mostras de querer partir.
“A maioria continua aqui, firme, e, se for para sofrer, [que seja para] sofrer com o povo, o que é um sinal de bastante solidariedade”, diz o padre Kwiriwi Fonseca, procurando traduzir o sentimento da esmagadora maioria dos padres e das religiosas que se encontram em Pemba.
“Há condições para sair, sim, mas muitos missionários e missionárias preferem ficar aqui para acompanhar tudo o que vier a acontecer. Porque, afinal, a Igreja tem um papel grande de cuidar desses mais de 150 mil deslocados [que se encontram na cidade]”, assinala o sacerdote.
Também D. Diamantino Antunes afirma que embora se compreenda que possa haver quem se sinta em insegurança, a maior parte quer ficar ao lado do povo em tempos tão difíceis como os que se vivem em Cabo Delgado, perante a ameaça de grupos terroristas.
“Nós somos pastores e o pastor não abandona as ovelhas no perigo”, assegura o prelado.
Já quando às religiosas que manifestaram o desejo de se mudar para a diocese de Tete, o bispo lembra que “elas viram a violência, não só acolheram os deslocados em Pemba, estavam também em Palma, em Nangade, em Mocímboa da Praia, em Macomia, portanto, viram. Houve irmãs que foram raptadas, viram a violência, são testemunhas da violência. Por isso, o medo é compreensível como é [também] da parte da população”.