O Santuário de Fátima, que costuma ser um “mar de luz” nas noites de 12 de maio, transformou-se esta noite num “deserto escuro”.
Foi com esta comparação que o cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, iniciou a sua homilia na celebração da palavra que se seguiu à recitação do terço e a uma procissão das velas reduzida a 21 pessoas, representando as dioceses de Portugal.
“Fica connosco, Senhor, porque se faz noite!”, começou o cardeal, citando as palavras dirigidas a Jesus pelos discípulos de Emaús, dizendo de seguida que se trata de uma “invocação de quem estremece e estranha esta noite tão diferente daquelas noites inigualáveis de 12 de maio – autênticos mares de luz – e que hoje mais parece um deserto escuro!”
D. António recordou que foi “com o coração em lágrimas” que tomou e anunciou a decisão de não ter fiéis nas celebrações deste 13 de maio, mas logo explicou de que forma nessa ausência está o mundo inteiro.
Veja na íntegra as celebrações da noite de 12 de Maio em Fátima
“As 21 velas que hoje representam as dioceses de Portugal e amanhã o ramo de flores, qual ramalhete espiritual do Apostolado Mundial de Fátima, a representar os nossos emigrantes e os peregrinos dos diversos continentes do mundo. Particularmente unido a nós está também um peregrino especial, o Santo Padre Papa Francisco, por cujas intenções queremos orar a Nossa Senhora!”
“Nesta hora de provação não podíamos esquecer a representação de quem mais sofreu e continua a sofrer e dos que mais lutaram e lutam pela saúde de todos para lhes comunicar a proximidade do nosso afeto e o apoio da nossa oração: os defuntos e seus familiares, os doentes, todos os profissionais de saúde, cuidadores, idosos, pobres, famílias, sacerdotes, trabalhadores da proteção civil, dos transportes, limpeza, alimentação e outros que não se pouparam a sacrifícios, como bons samaritanos”, disse ainda o cardeal.
A recitação do terço é um dos pilares da mensagem de Fátima, e nesta celebração D. António Marto lembrou que por ser terça-feira os mistérios da vida de Cristo que foram contemplados na recitação em Fátima foram precisamente os dolorosos, que narram a sua paixão, crucifixão e morte.
“Tendo meditado os mistérios dolorosos unimo-nos a toda a humanidade sofredora, evocada na leitura do profeta Isaías; confiámos as suas dores e todos os sofredores ao coração materno de Maria; pedimos-lhe que leve a todos a ternura e o conforto para superar esta provação como na sua visita a Isabel e que também nós, com toda a nossa solidariedade, sejamos testemunhas de que ‘o Senhor salva os corações atribulados’.”
Esta foi a primeira vez em mais de 100 anos que as celebrações de Fátima tiveram lugar sem a presença de fiéis. A decisão de impedir a ida de peregrinos deve-se ao estado de pandemia que o país, e o mundo, atravessam.
Ainda assim, três leigos foram escolhidos para representar os peregrinos que em vários pontos do mundo responderam ao apelo de D. António Marto de fazer uma peregrinação interior – muitos dos quais colocaram velas à janela para assinalar o dia. Num gesto incluído propositadamente para esta celebração, o cardeal descerá até junto destes três leigos para lavar-lhes os pés.
As celebrações continuam amanhã, quarta-feira, com nova recitação do terço, seguida de missa e com um destaque especial para os setores sociais que estão na linha da frente do combate à pandemia de Covid-19, nomeadamente médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, bombeiros, e funcionários de lares de idosos, que estarão representados na procissão de entrada.
[Notícia atualizada às 23h41]