​Investigadores defendem antecipação das metas de limitação do aquecimento global
18-09-2019 - 20:04
 • Lusa

As estratégias que se centram em 2100 "são inconsistentes com o objetivo do acordo de Paris, que é manter o aquecimento abaixo dos dois graus centígrados e, idealmente, abaixo de 1,5 graus", alertam os investigadores do Imperial College de Londres.

Investigadores do Imperial College de Londres defendem que as metas para limitar o aquecimento global devem ser antecipadas em várias décadas, para cumprir o Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa.

As estratégias que se centram em 2100 "são inconsistentes com o objetivo do acordo de Paris, que é manter o aquecimento abaixo dos dois graus centígrados e, idealmente, abaixo de 1,5 graus" em relação aos valores médios da era pré-industrial.

As estratégias atuais colocam "um fardo nas próximas gerações e estão a contar que as tecnologias de remoção de carbono da atmosfera estejam amplamente disponíveis, o que não é certo e é arriscado", consideram os investigadores, que publicaram esta quarta-feira um artigo com as suas conclusões na revista Nature, em que defendem que é mais sensato e justo limitar o aquecimento global antes de 2050 e estar menos dependente de tecnologias que ainda não são utilizáveis e do investimento das gerações futuras.

"Quando as estratégias contra o aquecimento global foram propostas pela primeira vez, há mais de 20 anos, o planeta só tinha aquecido 0,5 graus centígrados, portanto havia tempo para uma transição longa e suave para sistemas energéticos e economias que mantivessem o aquecimento abaixo de 2 graus até 2100", afirmou o principal autor do artigo, Joeri Rogelj.

Mas a ciência produzida na última década mostrou que os dois graus não podem ser considerados um limite seguro e os investigadores do Imperial College defendem que o objetivo deve ser apontar para a "neutralidade de emissões carbónicas como base de qualquer estratégia para o clima".

"Mudar o foco de um futuro distante para as próximas décadas, quando serão necessárias medidas drásticas, vai ajudar-nos a chegar aos objetivos do Acordo de Paris (alcançado em 2015) sem pôr o fardo nas gerações futuras", acrescentam.

Assim, defendem primeiro que tudo que todos os países devem chegar ao ponto em que só emitem a quantidade de dióxido de carbono que conseguem que seja absorvida novamente pelas suas florestas ou usando tecnologia para capturar o dióxido de carbono na atmosfera e retê-lo debaixo do solo.

A partir da neutralidade carbónica, os países poderão decidir a sua estratégia, dependendo do que têm que fazer para reduzir a sua contribuição para o volume de carbono emitido a nível mundial.

Para sublinhar a urgência da ação contra o aquecimento global, o secretário-geral da ONU, António Guterres convocou uma Cimeira de Ação Climática, que decorre entre sábado e a próxima segunda-feira, coincidindo com a Assembleia Geral da organização.

De acordo com a secretária-geral adjunta da ONU, Amina Mohammed, da cimeira são esperadas "medidas concretas e iniciativas bem construídas e audazes" sobre os passos a seguir para combater as alterações climáticas.

Apesar de ainda não haver estimativas oficiais, os organizadores acreditam que a cimeira vai reunir chefes de Estado ou de Governo de todos 193 Estados-membros da ONU.

A Cimeira de Ação Climática vai consistir na apresentação de projetos ambientais e iniciativas construídas a nível de países, com as Contribuições Nacionais Determinadas (NDC, na sigla em Inglês) e a nível de parcerias público-privadas entre sociedade civil e empresas.

As iniciativas, que vão ser anunciadas a partir do fim de semana, incluem planos de como acelerar a transição de combustíveis fósseis para "indústrias limpas", proteger a natureza e abrir o potencial da natureza para encontrar soluções climáticas, criar "maneiras mais verdes para trabalhar e para se deslocar" e entre outras, ajudar povos que já estão a sofrer com as consequências das alterações climáticas.