A campanha oficial começa este domingo, mas o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Paulo Raimundo, há muito que anda na estrada.
Tomou posse há cerca de um ano e meio, sucedendo ao carismático Jerónimo de Sousa que esteve 18 anos na liderança do partido, e muitos consideram que Raimundo. 47 anos, ainda é um desconhecido do grande público.
Talvez por isso a visibilidade na rua e o contacto com a população sejam uma aposta quase diária nas duas semanas que se seguem e que vai levar a caravana da CDU a 10 distritos do continente, incluindo alguns pelos quais já não elege nenhum deputado há vários anos.
As próximas eleições legislativas podem ser decisivas para esta coligação entre o PCP e o Partido Ecologista Os Verdes (PEV) que já dura há quase 40 anos.
Em 2022, a CDU obteve a votação mais baixa desde a sua formação, 4,3% dos votos, cerca de 238 mil votos, tendo conseguido eleger seis deputados, através de quatro círculos distritais (Lisboa, Setúbal, Porto e Beja). Uma quebra significativa dado que, três anos antes, nas legislativas de 2019, tinham conseguido eleger o dobro dos deputados.
Assim, nestas legislativas ou a CDU consegue estancar a queda e, pelo menos, obter votação igual ou superior à de 2022 ou agrava-se o cenário de emagrecimento da bancada parlamentar.
Paulo Raimundo parte otimista. Há um mês, em entrevista à Renascença, não hesitou em apontar a fasquia da eleição de 12 deputados, o que teria de passar por “crescer em Setúbal, em Lisboa, crescer no Porto, recuperar em Évora, recuperar em Santarém”.
E há mexidas nas listas destes distritos. Através de Lisboa, por exemplo, poderemos assistir ao regresso de um dos nomes históricos do PCP. António Filipe Rodrigues, durante anos eleito pelo círculo de Santarém, em 2022 ficou arredado do Parlamento, mas agora pode voltar, pois está em número 2 por Lisboa (o número um é Paulo Raimundo).
A lista da CDU por Santarém tem agora como líder Bernardino Soares, antigo presidente da Câmara de Loures.
Em Évora, João Oliveira que tem sido o habitual cabeça de lista, está agora apontado como cabeça de lista às europeias e na liderança por este círculo está agora Alma Rivera.
Se a votação correr como a CDU quer, pode-se assistir a outro regresso. Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista Os Verdes, é a terceira da lista por Setúbal. No entanto, em 2022, só foram eleitos dois deputados por este distrito.
Disponível para nova geringonça?
Os últimos anos políticos do país ficaram marcados pela aproximação do PCP e do Bloco de Esquerda ao PS de António Costa que permitiu, em 2015 e até 2019, um governo apoiado na esquerda parlamentar, uma solução que ficou conhecida como "Geringonça".
E se a solução correu bem em termos de estabilidade política, é certo que, dentro do PCP, houve muitos que não gostaram de andar de braço dado com os socialistas, caso do ex-deputado Miguel Tiago.
Paulo Raimundo tem sido questionado sucessivamente sobre a disponibilidade para um novo entendimento. O líder comunista tem chutado a bola para o PS, dizendo-se aberto a um acordo se os socialistas apoiarem medidas, por exemplo, na área laboral que se traduzam em melhorias de condições para os trabalhadores.
Ao Diário de Notícias, o líder comunista chegou mesmo a dizer que o PCP "disputa o poder" e "quer ir para o Governo". Mas, enquanto abre esta porta, vai dizendo que não vê renovação no PS e lança remoques aos pedidos de voto útil de Pedro Nuno Santos, e recentemente deu o exemplo da eliminação de portagens nas autoestradas.
"A única garantia, daquela gente toda que paga aquelas portagens, de que a promessa vai ser concretizada não é dar a maioria ao PS, é votar no PCP e na CDU, porque é a nossa força que vai obrigar a que todas as promessas que estão a ser feitas sejam cumpridas. Se vamos por aí, o voto útil é no PCP e na CDU”, defendeu Paulo Raimundo.