A habitação, os baixos salários e a precariedade no mundo do trabalho foram as principais preocupações de jovens, que se queixam que um salário médio nacional não chega para arrendar uma casa em Lisboa. Os problemas, que não são exclusivos dos jovens mas que afetam principalmente os jovens, levam a que o limite para ser jovem hoje seja de uma idade acima do que era o jovem de há 20 anos.
No segundo painel, sobre “Políticas para uma Nova Geração”, a habitação e as alterações climáticas foram temas trazidos pela primeira vez, além dos baixos salários nas faixas etárias mais jovens. O candidato à presidência do PSD e presidente da Plataforma para o Crescimento Sustentável, Jorge Moreira da Silva, afirma que a oportunidade para garantir o objetivo de baixar em 1,5ºC a temperatura do planeta até 2050 “depende mais desta década do que das próximas décadas”.
Falando em incongruências entre o “curto, o médio e o longo prazo”, que inclui as políticas ambientais em Portugal, Moreira da SIlva avisa que as “escolhas no curto prazo podem não ser as mais viáveis”.
Aproveitando a comemoração do Dia Mundial de Combate ao Desperdício Alimentar, Moreira da Silva falou que este representa por ano uma perda de 2 biliões de dólares, representando 8 a 10% das emissões globais, defendendo uma neutralidade fiscal, uma fiscalidade verde, que passa por impostos sobre a poluição para existirem condições para baixar o IRS e IRC.
Já o antigo ministro do Trabalho e da Economia, Vieira da Silva, falou sobre o problema da habitação, dizendo acreditar que existe um “conflito de gerações”, no qual os fatores de solidariedade têm sido mais pesados e as transferências familiares na compra da casa têm um papel importante.
O ex-governante prevê que a habitação “pode ser um fator disruptivo com impacto social” e que é necessária uma intervenção pública, cooperativa ou social para ultrapassar o problema da habitação.
Sobre a proposta de IRS Jovem que o PSD vai apresentar, em que a taxa máxima para menores de 35 anos seria de 15%, Vieira da Silva disse “acreditar pouco” em políticas para jovens.
“Acredito pouco nas políticas para jovens, acredito mais nas políticas e comportamentos que favoreçam os jovens”, disse Vieira da Silva, sobre a proposta que Luís Montenegro anunciou nesta conferência.
“Nunca vi políticas desenhadas para os jovens. Aqui falaram-se de algumas. O empregador sabe aquilo que o seu empregado recebe e paga aquilo que estiver disponível a pagar. Não creio que sejam medidas muito dirigidas.”
Vieira da Silva indicou ainda que Portugal é dos países com menos oferta pública no mercado regulado, onde o Estado tem um papel interventivo no mercado, de regulador.
“Antes, dizia-se que a compra de casa própria rigidificava a mobilidade das pessoas. E que o arrendamento liberalizava. Atualmente, é exatamente ao contrário o que está a acontecer em Portugal. Quem tem uma casa arrendada há seis anos por 800€ está muito mais preso a ela, porque sair dela significa passar a pagar 1.400 € noutra, enquanto que quem tem casa própria tem um valor próprio e pode colocá-la no mercado e encontrar outra solução. Os mitos não resistiram aos tempos e à realidade.”
O fenómeno de estender a idade de ser jovem
Adriana Cardoso, da academia apartidária A Próxima Geração, elencou como grandes desafios da sua geração os baixos salários, a precariedade laboral dos jovens e o difícil acesso a habitação, exemplificando que, segundo a Fundação Francisco Manuel dos Santos, três em cada quatro jovens recebe um salário abaixo dos 950€ e que, em Lisboa, não é possível arrendar uma casa por menos de 750€.
“Se me perguntarem, por que a minha geração sai tarde de casa dos pais, a razão está perfeitamente diagnosticada”, diz. A estudante do mestrado de Ciências Farmacêuticas em Coimbra fala ainda sobre o seu futuro imediato, que passará por sucessivos estágios não remunerados até à entrada no mercado de trabalho, abordando a precariedade no mercado laboral.
"Portugal vive um fenómeno de estender consecutivamente aquilo que é a idade de ser jovem porque nos roubaram a capacidade de ter adultez. Atualmente, estica-se o que é a juventude desde os 18 aos 35 anos. Isto leva a um ciclo de problemas quando a minha geração adia o seu ciclo de familiar, tem incapacidade de ter habitação própria, e adia cada vez mais o primeiro filho, muitas vezes acaba por ter só um ou mesmo nenhum.”
Adriana Cardoso dá como exemplo os programas de renda acessível em Lisboa, criados em 1992, que tinham como idade limite os 30 anos. O novo programa, da Porta 65, na última década, tinha já como idade limite os 35 anos, mas a verba alocada tinha baixado.
Já Luís Lobo Xavier, coordenador da Iniciativa Justiça Intergeracional da Fundação Gulbenkian, admitiu que, com um salário médio, “não há dinheiro para comprar uma casa”. “É espantoso como a taxa de desemprego jovem é sempre muito mais alta que a taxa de desemprego média, mas a despesa do Estado com o subsídio de desemprego é substancialmente com maiores de 50 anos”, aponta.