O líder parlamentar do PSD considera que o ministro dos Negócios Estrangeiros está "muito fragilizado" e acusou-o de ter omitido "informação relevante" ao parlamento, considerando que o primeiro-ministro tem que explicar se mantém a confiança no governante. A Iniciativa Liberal (IL) defende a demissão de João Gomes Cravinho.
"O que aqui é importante é que o primeiro-ministro venha esclarecer o que se passou e venha dizer se mantém a confiança política no seu ministro dos Negócios Estrangeiros, apesar de ele estar muito fragilizado e ainda por cima, sendo ministro e ministro de uma área de soberania, é para nós bastante grave", disse, em declarações à agência Lusa Joaquim Miranda Sarmento.
Segundo o social-democrata, "o PSD não costuma pedir a demissão de ministros porque a formação do Governo é uma competência do senhor primeiro-ministro".
"O senhor primeiro-ministro é que tem que vir explicar se mantém a confiança no seu ministro dos Negócios Estrangeiros e se acha normal ter um ministro, ainda para mais numa área de soberania, visado em tantos casos e com tantas situações por esclarecer", enfatizou.
Miranda Sarmento afirmou que João Gomes Cravinho, "na qualidade anterior de ministro da Defesa, tem já várias situações que o fragilizam muito do ponto de vista político", dando como exemplos as obras do Hospital Militar e os casos envolvendo o ex-secretário de Estado da Defesa Marco Capitão Ferreira.
"É importante lembrar que o senhor ministro esteve no parlamento a semana passada e omitiu informação relevante à Assembleia da República, nomeadamente o trabalho em paralelo, simultâneo e direto, com Marco Capitão Ferreira para o gabinete do então ministro da Defesa", acrescentou.
Para o líder parlamentar do PSD, todos estes casos mostram "a fragilidade política em que o ministro está porque, de facto, ele tem uma proximidade muito grande" a Capitão Ferreira, estando "implicado e envolvido" em todos estes processos que envolvem o antigo secretário de Estado.
Liberais defendem demissão de Cravinho
A IL defende que o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, “tem de sair do Governo”, considerando que “teve todas as oportunidades para clarificar” a sua relação com o ex-governante Marco Capitão Ferreira.
“Sendo verdade todos os factos que estão relatados, em detalhe, nesta reportagem [da Visão] não há de todo condições para João Gomes Cravinho continuar como ministro dos Negócios Estrangeiros do atual Governo, porque já não é uma questão de responsabilidade política, é também uma questão da dignidade do Estado português”, disse, em declarações aos jornalistas no parlamento, o líder parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva.
Agora que foram divulgados mais “episódios relativamente àquilo que é o envolvimento de Marco Capitão Ferreira e a relação com o ministro João Gomes Cravinho”, o liberal considerou que Portugal não pode ter a “representar o Estado uma pessoa que tem suspeitas como aquelas que estão em torno de quando era ministro da Defesa”.
“Há uma relação muito próxima entre Marco Capitão Ferreira e João Gomes Cravinho. Não podemos ter uma pessoa envolvida neste enredo a representar o Estado português por esse mundo fora. Não há condições. João Gomes Cravinho tem de sair do Governo”, insistiu.
Segundo Rodrigo Saraiva, “João Gomes Cravinho teve todas as oportunidades para clarificar a sua relação com Marco Capitão Ferreira”.
“Esta comissão informal, esta comissão fantasma, como o próprio Capitão Ferreira a designa, esteve reunida com João Gomes Cravinho no dia 5 de Abril [de 2019]. Portanto, João Gomes Cravinho não pode refugiar-se nessa desculpa de que ‘aí não me perguntaram’", acrescentou ainda.
Segundo a edição da Visão de hoje, entre fevereiro e março de 2019, Marco Capitão Ferreira assessorou a Direção-Geral de Recursos e Defesa Nacional no contrato relativo aos helicópteros EH-101 ao mesmo tempo que trabalhou para o gabinete do então ministro da Defesa, integrado numa alegada "comissão fantasma" que tinha como objetivo realizar um estudo.
Marco Capitão Ferreira demitiu-se de secretário de Estado da Defesa no início de julho, no dia em que foi constituído arguido no âmbito da operação "Tempestade Perfeita", suspeito dos crimes de corrupção e participação económica em negócio, e alvo de buscas, que também ocorreram nas instalações da Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional.
Marco Capitão Ferreira tomou posse como secretário de Estado da Defesa Nacional em março de 2022, desde o início do atual Governo, e antes foi presidente do conselho de administração da idD Portugal Defence, a "holding" que gere as participações públicas nas empresas da Defesa - cargo que assumiu em 2020 e para o qual foi nomeado por Gomes Cravinho.
Na audição no parlamento, na passada sexta-feira, o antigo ministro da Defesa e atual ministro dos Negócios Estrangeiros assegurou que não indicou Marco Capitão Ferreira para a polémica assessoria prestada à Direção-Geral de Recursos da Defesa, remetendo a responsabilidade para o antigo responsável Alberto Coelho.