Aproveitar “os tempos que vivemos” para poder “fazer renascer em nós a capacidade de estar atentos aos mais necessitados”, é o pedido que o arcebispo de Évora faz, esta terça-feira, aos cristãos da diocese.
Na sua mensagem de Natal, D. Francisco Senra Coelho sugere que esta “capacidade de estar atentos aos mais necessitados”, se estenda também “aos que são diferentes porque vêm de outros lugares e de outras culturas, aos que estão desenraizados ou sofrem qualquer tipo de carência”.
Dirigindo-se aos “cristãos e pessoas de boa vontade”, o prelado recorda as palavras do Papa Francisco: “No mundo, procura-se sempre aumentar os lucros, aumentar o volume de negócios… Sim, mas com que finalidade?”, para sublinhar que esta é “uma economia que mata”.
Em oposição, “A ‘economia’ do Evangelho multiplica partilhando, alimenta distribuindo; não satisfaz a voracidade de poucos, mas dá vida ao mundo (Cf. Jo 6,33). O verbo de Jesus não é ter, mas dar”, lê-se nesta mensagem.
Refere o arcebispo de Évora, “quanto mais aumentam aqueles que se alimentam do Pão da Palavra de Cristo e da Eucaristia, mais se multiplica o pão distribuído a quem tem fome”, concluindo que é “através de uma economia de comunhão” que “globalizamos a solidariedade”.
A arquidiocese, recorde-se, assumiu para este Ano Pastoral 2021-22 o desafio que se traduz em «Cuidar e inserir os sedentos da Esperança», pondo em prática o mandato de Jesus, “dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13).
“O objetivo do plano pastoral é consolidar nas comunidades cristãs a missão de cuidar e inserir todos os que procuram um sentido de esperança”, acentua, D. Francisco Senra Coelho.
O Natal volta a celebrar-se com muitas restrições por causa da pandemia, por isso, nunca é demais prestar, sublinha o prelado, “a nossa gratidão a todos os agentes dos serviços de saúde, cuidadores de idosos e de todo o tipo de debilidades”.
“Muito obrigado aos Hospitais, às Santas Casas da Misericórdia, aos Centros Sociais Paroquiais e a todas as Instituições e serviços que previnem e cuidam as consequências deste doloroso momento. Convosco a minha oração”, frisa.
Pedindo “a Deus”, para todos, “bênçãos de Santo Natal”, D. Francisco deixa a sugestão: “O que não podemos fazer pela distância que nos protege, podemos fazer na qualidade e na criatividade da nossa presença”.
Uma nova racionalidade económica para cuidar o futuro
Para esta mensagem de Natal, o arcebispo de Évora foi buscar contributos ao Relatório da Comissão Independente sobre População e Qualidade de Vida, “Cuidar o Futuro”.
Trata-se de um documento que constitui uma tradução do original “Caring for the Future: Report of the Independent Commission on Population and Quality of Life”. Foi publicado em junho de 1996 pela Oxford University Press, tendo chegado a Portugal, dois anos depois.
Segundo D. Francisco Senra Coelho, o Natal “é um apelo à edificação de um mundo mais justo e atento a cada ser humano”, por isso ninguém deveria sentir-se “só no meio de muita gente”.
Para que isso seja possível, é necessário perceber que «não se pode deixar à generosidade intermitente dos poderosos a preocupação de atingir uma melhoria sustentável para todos – elevar mil milhões de pessoas acima do nível de sobrevivência – e preparar o terreno para uma vida sustentável nas próximas cinco décadas”.
Para que isto seja possível, “a estabilidade durável do ambiente, não pode ser deixada à mercê da lucidez e da boa vontade dos outros”.
O arcebispo partilha da ideia que “uma nova racionalidade económica, baseada no respeito pela Natureza, e novos esforços para restabelecer a equidade não poderão ser deixados às raras pessoas que estão vitalmente empenhadas na mudança”, mas todas estas ações “devem ser prosseguidas, tanto individualmente como coletivamente”.
Para que os cristãos possam fazer uma reflexão mais profunda neste Natal, D. Francisco recorre ao mesmo relatório, para reafirmar “que a ética do cuidado com o outro transcendendo a racionalidade económica, é capaz de se opor à influência do puro individualismo e da cupidez”.
“O cuidado por nós próprios, pelos outros e pelo ambiente é a base necessária duma melhoria sustentável da qualidade de vida”, conclui, citando novamente o documento “Cuidar o Futuro”.