Sete em cada dez empresas que pediu financiamento ainda não teve resposta, diz a CIP
25-05-2020 - 19:31
 • Ana Carrilho

A linha aberta pelo Governo não tem dinheiro suficiente, diz CIP. A crise provocada pela Covid-19 dissuadiu muitas empresas de realizar investimentos.

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Na última semana cresceu o número de empresas que pediu financiamento bancário ao abrigo da linha de crédito lançada pelo Governo para fazer face aos prejuízos causados pela pandemia. No entanto, muitas delas não terão qualquer hipótese de financiamento, a não ser que o Executivo volte a reforçar a linha que, neste momento, cobre 6,2 mil milhões de euros, mas está praticamente esgotada.

A revelação foi feita esta segunda-feira à tarde na videoconferência de imprensa da CIP – Confederação Empresarial de Portugal. Os resultados do inquérito no âmbito do Projeto Sinais Vitais, realizado em parceria com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE mostram que mais de 82% das 1.034 empresas que participaram pretende recorrer a instrumentos de capitalização, de preferência a fundo perdido. Mostra ainda que mais de 40% das que, no início do ano, tinham intenção de investir no aumento da sua capacidade produtiva ou na melhoria das instalações, decidiu adiar ou suspender esse investimento

À espera, sem saber se há financiamento

Um total de 68,8% das empresas que pediram financiamento à banca no âmbito da linha de crédito lançada pelo Governo para fazer face ao impacto da pandemia, ainda não recebeu resposta, e muitas delas não receberão qualquer apoio. A explicação é simples e foi avançada pelo presidente da CIP na videoconferência de imprensa. A Linha de Crédito, que foi sucessivamente reforçada desde os 100 milhões de euros iniciais, tem atualmente 6,2 mil milhões de euros. Mas os pedidos já vão em 10,5 mil milhões de euros. “Só se for reforçada, como defendemos, é que algumas dessas empresas poderão obter o financiamento”. Porque a resposta é dada “por ordem de chegada”, explicou António Saraiva.

O líder empresarial revelou ainda que, em contacto com o Ministro da Economia, ficou a saber que a linha está praticamente esgotada: já tem pedidos aprovados até 6,1 mil milhões e até ao fim da semana passada, 3,1 mil milhões foram contratualizados.

O excessivo “fatiamento” da Linha, (começou com 100 milhões de euros, duplicou ao fim de semana e pouco depois subiu para 400 milhões. De seguida, com o agudizar da crise, o governo anunciou 3 mil milhões e finalmente, 6,2 mil milhões de euros) e a burocracia (cada processo tem cem páginas e dezassete requisitos) são entraves acrescidos para muitos empresários, sobretudo de micro, pequenas e até médias empresas, diz António Saraiva.

Ainda assim, este 4º inquérito do Projeto Sinais Vitais revela que na última semana cresceu o número de empresas que se aventuraram nessa odisseia. São 42% dos inquiridos, tanto quantos os que responderam que não pediram nem pensam pedir qualquer apoio à banca.

O que não quer dizer que não procurem instrumentos de capitalização. Foi o que responderam 82% das participantes no inquérito, mas preferindo “mecanismos de fundo perdido em vez de dívida a somar à dívida. É preferível usar os impostos incentivando postos de trabalho do que os impostos para subsídio de desemprego ou desaparecimento de postos de trabalho”, argumenta o presidente da CIP.

Investimentos adiados

De semana para semana aumenta o número de empresas que retomam a atividade, mas boa parte delas teve de alterar os planos que tinha no início do ano. Antes da Covid-19, quatro quintos das empresas estava a pensar fazer investimentos. Destas, mais de um quarto, na capacidade produtiva, 16% nas instalações e 14%, na inovação de produtos e processos. Só 20% não tinha intenções de investir.

Com a pandemia, só 18% pretende manter os planos e 40% espera manter o investimento, parcialmente. Já 42% não tem dúvidas que vai suspender ou até cancelar os investimentos previstos. Estão neste caso muitas empresas ligadas ao setor do turismo (alojamento e restauração) e comércio, sobretudo micro e pequenas.

Os fatores que mais contribuem para a decisão de adiar ou cancelar o investimento são a redução de encomendas, perspetivas económicas negativas, escassez de capitais próprios e impossibilidade de conseguir financiamento.

Oito em cada dez das 1.034 empresas da amostra são micro e pequenas. As grandes empresas, são 6% e as médias, 16%. O maior peso (46%) é dos setores da indústria e energia.