José Tolentino Mendonça é o Prémio Pessoa 2023. O anúncio foi conhecido esta quinta-feira em Sintra. O Cardeal português, Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, bem como poeta é a segunda figura da igreja a ser distinguida com o Prémio Pessoa. O primeiro foi o Cardeal Patriarca Emérito D. Manuel Clemente, em 2009.
Com um valor de 60 mil euros, este prémio é uma iniciativa do semanário Expresso com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos que visa reconhecer a atividade de pessoas portuguesas com papel significativo na vida cultural e científica do país.
Depois de no ano passado ter distinguido o poeta e médico João Luís Barreto Guimarães, a 37ª edição do galardão recaiu sobre o Cardeal Tolentino Mendonça que nas palavras do júri é uma personalidade que se distingue de forma “notável e diversificada” na sua “atividade intelectual”, que “projeta uma visão do mundo norteada por uma espiritualidade que pretende acolher, compreender e transcender as dilacerações, conflitos e sofrimentos da Humanidade”.
Segundo Francisco Pinto Balsemão, presidente do júri que leu a deliberação, Tolentino Mendonça “além das suas funções eclesiásticas e pastorais, têm-se destacado no ensino universitário, no ensaio de reflexão teológica e filosófica”. O júri destaca ainda a criatividade como poeta, considerando o Cardeal “uma das vozes fundamentais da poesia contemporânea portuguesa e europeia”.
Na opinião do júri, Tolentino Mendonça “protagoniza uma conceção integradora, unificadora e universal da força espiritual da literatura, que lhe serve de guia desde sempre”.
Presidido por Francisco Pinto Balsemão, o júri é constituído por Paulo Macedo (Vice-Presidente), Ana Pinho, António Barreto, Clara Ferreira Alves, Diogo Lucena, Emílio Rui Vilar, José Luís Porfírio, Maria Manuel Mota, Pedro Norton, Rui Magalhães Baião, Rui Vieira Nery e Viriato Soromenho-Marques.
Atribuído desde 1987, o Prémio Pessoa já distinguiu personalidades como o historiador José Mattoso, a pianista Maria João Pires, o médico João Lobo Antunes, o escritor José Cardoso Pires, o arquiteto Eduardo Souto Moura, o compositor Emanuel Nunes, o encenador Tiago Rodrigues ou a cientista Elvira Fortunato.
Tolentino Mendonça é autor de livros de ensaio como “Metamorfose Necessária” sobre São Paulo, ou de livros de poemas como “Estação Central”. Natural da Madeira, é antigo vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa.
Doutorado em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, tem a licenciatura canónica em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico, de Roma e é licenciado em Teologia pela Faculdade de Teologia da Católica. Em 2019, foi nomeado Cardeal pelo Papa Francisco.
Foi Diretor da Faculdade de Teologia, presidente e membro do Conselho Científico da mesma Faculdade. Segundo o júri, do Prémio Camões, Tolentino Mendonça “tem-se mantido fiel ao lema contido no título do seu mais recente livro. Tem sido um humilde e generoso Peregrino da Esperança”.
Em declarações à Renascença, no final do encontro, o musicólogo Rui Vieira Nery que pertence ao júri explicou que o prémio “foi dado na dupla dimensão do poeta e do intelectual, comprometido com o debate cívico, o debate comunitário sobre valores, princípios, sobre a vida em conjunto, sobre tolerância”.
Na opinião de Nery, mais do que “a função pastoral estrita”, Tolentino Mendonça destaca-se como “o cidadão”. “O prémio é para a figura do intelectual que debate, que ouve os outros, que fundamenta as suas posições, e que participa no debate comunitário, que é um valor cada vez mais importante na sociedade extremada em que as pessoas não falam umas com as outras”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já reagiu à distinção de Tolentino Mendonça.
"Padre, teólogo, poeta, cronista, ensaísta, académico, José Tolentino Mendonça tem-se afirmado como figura central na cultura portuguesa contemporânea, dando continuidade, por um lado, à presença do cristianismo na sociedade, cultivando, por outro, o diálogo com o mundo laico e os valores humanistas, e resgatando, enfim, ideias de empatia e sabedoria em tudo opostas à polarização, ao imediatismo e à estridência", lê-se no site da Presidência.
"O Prémio Pessoa que hoje lhe foi atribuído reconhece muito justamente essa unidade e essa diversidade", acrescenta a mesma mensagem.
Tolentino Mendonça vai doar valor do prémio
O Cardeal D. Tolentino Mendonça já confirmou que irá doar o valor do Prémio. Em comunicado, a Quetzal, editora que publica os livros de ensaio do premiado refere que o cardeal "optou por entregar a totalidade do Prémio Pessoa, no valor de 60 mil euros, a uma instituição de solidariedade".
O prefeito do Dicastério para a Educação e Cultura será amanhã homenageado em Aveito. Tolentino Mendonça vai receber o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro, numa cerimónia de comemoração dos 50 anos da Academia, a partir das 14h15, no Auditório Renato Araújo, em Aveiro.
[texto atualizado às 15h05 com mais informação]