A presidente do Conselho de Administração do Hospital Santa Maria afirmou esta quarta-feira que as obras de ampliação previstas para este verão implicam o encerramento da maternidade pois são diversos os pisos com intervenções em simultâneo.
“Estas obras justificam o encerramento porque vamos intervir em três pisos simultaneamente e não podemos fazê-lo com o bloco de partos a funcionar”, afirmou Ana Paula Martins, que foi hoje ouvida na Comissão Parlamentar de Saúde, a pedido do Chega, sobre o plano para a resposta de Obstetrícia e Ginecologia traçado pela Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (DE-SNS).
Ana Paula Martins explicou que o projeto inicial para a obra era apenas de requalificação e que foi o Ministério da Saúde e a DE-SNS que pediram a Santa Maria que aumentasse a capacidade, em vez de apenas requalificar.
“Havia já um projeto de requalificação do bloco de partos, mas mês e meio depois (…) a Direção Executiva e o Ministério da Saúde pedem a Santa Maria que aumente a capacidade”, disse a responsável, sublinhando tratar-se de uma obra de seis milhões de euros que permitirá fazer mais 1.500 partos/ano.
Disse ainda que “todo o processo revisão do plano da obra foi acompanhado sempre pelo ex-diretor do departamento” – Diogo Ayres de Campos, entretanto exonerado após ter criticado o plano de encerrar a maternidade e transferir os partos para o Hospital São Francisco Xavier durante as obras.
A presidente do hospital disse ainda ter ficado surpreendida com uma carta dos profissionais da ginecologia e obstetrícia, em que “uma das preocupações era que não conheciam o projeto da maternidade”.
A este respeito, o diretor clínico do Santa Maria, Tato Marinho, que também esteve na comissão parlamentar, corroborou esta posição, afirmando: “O diretor foi envolvido, esteve em 10 reuniões, se não passou [informação] para a equipa, a questão não é nossa”.
Reconhecendo que o primeiro projeto de obra não previa o encerramento da maternidade, Ana Paula Martins destacou, contudo, que nesse plano as grávidas “iam ser recebidas [na urgência] em contentores”.
“Não é a melhor maneira de receber uma senhora em trabalho de parto”, acrescentou a responsável.
A presidente do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) – que integra os hospitais de Santa Maria e Pulido Valente – sublinhou ainda que o aumento da capacidade implica também mais quartos de puerpério e mais unidades de ecografia obstétrica.
Quanto à capacidade atual da maternidade do Hospital Santa Maria, o diretor clínico reconheceu que “a sala de partos é pequena” e contou que, frequentemente, aos fins de semana, há encerramentos a grávidas transportadas pelo INEM.
“Vamos ter mais 1.000 metros quadrados, aumentar a sala de indução de 14 para 31 [lugares], o pós-parto vai aumentar de 29 para 41 [camas], o bloco de cesarianas de um para dois e nos recém-nascidos de 19 para 29”, exemplificou Tato Marinho, explicando que se trata de valências espalhadas por seis pisos do hospital.
Também o enfermeiro diretor, Jose Alexandre Abrantes, explicou que o projeto inicial que previa um novo bloco de partos era no exterior, logo, não implicava qualquer encerramento da maternidade, mas destacou: “Deparámo-nos com outro aspeto, fruto do encerramento de outras maternidades, (…) muitas vezes tínhamos de fechar a sala partos para o INEM”.
As obras de construção da nova maternidade de Santa Maria têm estado no centro de uma polémica que envolve os profissionais de saúde do serviço de ginecologia e obstetrícia e já levou a exoneração, no mês passado, do diretor do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Diogo Ayres de Campos, e da diretora do Serviço de Obstetrícia, Luísa Pinto.
Os trabalhos estarão no terreno em setembro e deverão ficar concluídos até final de março de 2024. Até lá, as equipas de Santa Maria trabalharão coordenadas com as do Hospital São Francisco Xavier.