O ano de pandemia trouxe à Cáritas Portuguesa milhares de pessoas que até agora ajudavam e, de um dia para o outro, passaram a ser elas a precisar de ajuda. Rita Valadas, presidente da Cáritas, diz que essa foi uma das emergências que a crise provocada pela Covid-19 revelou.
“Começámos a receber famílias que não conhecíamos com necessidades para as quais normalmente não somos chamados”, descreve a presidente da Cáritas Rita Valadas, dando como exemplo “Pessoas com receio de perder a casa porque deixaram de conseguir pagar a renda ou necessidades de apoio para pagar a luz, para pagar a água e até a determinada altura para pagar a internet quando os meninos tiveram de ir para casa e precisavam de internet”.
Em entrevista à Renascença, Rita Valadas olha para a forma como a Cáritas tem dado resposta a estes tempos de pandemia.
A primeira preocupação foi a falta de equipamentos de proteção individual. “Tínhamos de proteger os profissionais que estavam a trabalhar com as pessoas e os equipamentos de proteção individual não estavam disponíveis”, conta RIta Valadas. Depois surgiram as novas famílias, com novas necessidades e os orçamentos das Cáritas Diocesanas “deixaram de ser capazes de resolver os problemas que estavam a chegar”.
Perante as dificuldades, a Cáritas, além de prestar apoio alimentar, através de cabazes e vales, arranca com o programa “Vamos inverter a curva da pobreza”. Entre as várias respostas, são agora cerca de 130 mil pessoas que contam com a ajuda da Cáritas.
“Passámos de apoiar 100 mil pessoas para 120, em termos de atendimentos. No programa ‘Vamos inverter a curva da pobreza’ apoiámos entre abril e dezembro 10 mil pessoas”, enumera.
Quanto aos 1.500 funcionários da Cáritas, mantiveram-se todos em funções, sem necessidade de recorrer a lay-off. As formas de trabalho foram adaptadas, todos os que puderam foram para teletrabalho.
Quanto aos cinco mil voluntários, também continuaram com as suas atividades, mas “os mais velhos foram o mais poupados possível”, sublinha a presidente da Cáritas.
A Cáritas não usou nenhuma das medidas de apoio do Governo, mas reconhece que estas foram essenciais para que a crise não tenha tomado uma dimensão maior. Rita Valadas teme, por isso, o dia em que deixem de existir.
“À medida que as moratórias e o lay off e estas almofadas que foram criadas forem embebidas noutros programas ou mesmo descontinuadas não sei o que vai acontecer ao tecido económico, mas sei que o tecido social, qualquer alteração que haja no tecido económico, vai sofrer”, argumenta.
A presidente da Cáritas deposita esperanças na chamada bazuca financeira, o Plano de Recuperação e Resiliência, mas alerta que a solução não pode ser “atirar com dinheiro para cima da mesa na perspectiva de que atirar com dinheiro para cima dos problemas os faz desaparecer”, diz. “Não faz, temos de encontrar dinheiro que promova, que permita a reinserção, que permita a empregabilidade”, remata.
Apesar de algum apreensão com o futuro, Rita Valadas identifica uma nova forma de estar que não se deve perder, por exemplo, mais atenção ao próximo e mais vida ao ar livre.
No que à Cáritas diz respeito, à falta do peditório nas ruas, foi criada uma modalidade online e, na Semana Nacional da Cáritas, conseguiram estreitar relações com empresas disponíveis para serem parceiras na responsabilidade social, uma tendência que espera tenha vindo para ficar.
Respostas Sociais à Pandemia é uma rubrica da Renascença com apoio da Câmara Municipal de Gaia que surge no seguimento da Conferência "Pandemia: Respostas à Crise" onde se debateu em maio de 2021 o papel das Instituições Sociais e do Poder Local.