O PS chumbou esta quarta-feira isolado a audição parlamentar da ministra da Defesa e do seu antecessor e atual ministro dos Negócios Estrangeiros sobre notícias recentes relativas ao processo “Tempestade Perfeita”, apesar dos apelos da oposição para esclarecimentos.
O requerimento, apresentado pelo Chega, recebeu o voto favorável do PSD, Chega, IL e BE, que apelaram à bancada maioritária socialista para que aprovasse a iniciativa, mas sem sucesso.
A oposição lembrou que recentemente, em 27 de setembro, o PS também chumbou a audição de Helena Carreiras, pedida pelo Chega, sobre o facto de o secretário-geral daquele ministério continuar em funções depois de ter sido constituído arguido, no âmbito do mesmo processo.
O deputado do Chega Pedro Pessanha começou por dizer que a apresentação de novo requerimento “parece um `déjà vu´”, mas sustentou que o pedido se justificava após notícias do semanário Expresso sobre o depoimento de um dos arguidos e antigo responsável financeiro na Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN), Paulo Branco.
“Penso que já há casos a mais para estarmos constantemente a negar a vinda dos ministros a esta comissão. Por isso, apelo ao bom senso dos meus colegas, sobretudo do PS, para que de uma vez por todas possamos ouvir os ministros”, argumentou.
Pelo PSD, o deputado António Prôa afirmou que a apresentação sucessiva de requerimentos para ouvir governantes sobre o caso ‘Tempestade Perfeita’ “banaliza o instrumento e contribui para aumentar alguma suspeição relativamente à credibilidade” do setor da Defesa, mas salientou que estes têm sido sucessivamente chumbados.
António Prôa considerou que “convinha refletir se a bem do interesse nacional não era bom” que o PS viabilizasse a audição dos governantes no parlamento, para esclarecer dúvidas que considerou “legítimas”.
O líder parlamentar da Iniciativa Liberal, Rodrigo Saraiva, também mostrou preocupação com a possibilidade das polémicas na Defesa afetarem a “credibilidade das Forças Armadas”.
“Sobre este tema gostávamos era de ouvir o senhor primeiro-ministro, mas ele resolve usar os ministros como pára-raios”, acusou.
Joana Mortágua, do BE, criticou igualmente a apresentação sucessiva de requerimentos sobre o tema mas avisou que “o escudo do Grupo Parlamentar do PS não poderá proteger para sempre o Governo” e considerou que os esclarecimentos terão de ser prestados “mais cedo ou mais tarde”.
Coube ao deputado socialista Miguel Rodrigues justificar o voto contra do partido, acusando o Chega de querer retirar “ilações políticas de um caso” que está a decorrer na Justiça.
O socialista salientou que o que está em causa é apenas um depoimento de um dos mais de 70 arguidos no processo, e recusou que a cada nova alegação que venha a público se justifique a vinda dos ministros à comissão de Defesa.
Em setembro, o Expresso noticiou que um dos arguidos no caso "Tempestade Perfeita", Paulo Branco, à época responsável financeiro na Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional (DGRDN), implicou o ministro João Gomes Cravinho no caso do contrato de assessoria no valor de cerca de 50 mil euros celebrado com o ex-secretário de Estado Marco Capitão Ferreira.
Paulo Branco, acusado de corrupção e branqueamento, declarou também que financiou “ao longo dos anos” as investigações académicas da atual ministra da Defesa, Helena Carreiras, para que a investigadora desse um “carimbo científico” aos dados recolhidos pela Direção-Geral do Ministério da Defesa.
Cravinho já repudiou de forma "veemente e inequívoca" qualquer ligação a alegados casos de corrupção na Defesa, reiterando não ter estado envolvido no polémico contrato com o ex-secretário de Estado Marco Capitão Ferreira e Helena Carreiras disse serem “falsas e inaceitáveis” as acusações de Paulo Branco, garantindo que reagirá "fortemente".