O socialista Fernando Medina é perentório: “sim, deve haver financiamento” da comunicação social “e devem ser encontradas as fórmulas para eliminar os riscos da dependência política”.
O presidente da Câmara de Lisboa considera que “estamos num momento de fragilidade neste pilar da nossa democracia e é bom que ajamos coletivamente para que ela não se fragilize mais”.
Fernando Medica assume, assim, uma posição contrária à do secretário de Estado Nuno Artur Silva, segundo o qual a solução não pode estar no Estado, mas nos próprios órgãos de comunicação, que têm de "encontrar respostas" para a crise.
No habitual espaço de comentário no programa As Três da Manhã, Medina defende que “a realidade atual” revela que “quer o pagamento pelos próprios leitores/usufrutuários dos sistemas de informação, quer o pagamento através do mercado, por via publicitária, ou se tem manifestado insuficiente para a sobrevivência de um conjunto significativo de projetos de referência ou tem levado, em alguns projetos, a uma massificação, uma homogeneização dos projetos de comunicação social no sentido negativo relativamente àquilo que é de preservar relativamente a jornalismo de qualidade”.
“Acho que estamos num ponto muito delicado, em que várias instituições estão muito frágeis – sabemos bem a situação em múltiplas redações relativamente à precariedade, relativamente aos baixos salários, relativamente à falta de jornalistas e sabemos como isso afeta a nossa democracia”, realça.
Como exemplo de mecanismos de salvaguarda da independência jornalística, Medina aponta “fontes de receita que podem ser consignadas, fontes de receita que são criadas por cima ou lateralmente relativamente a determinado tipo de fiscalidade – quer dizer, algo que não esteja estritamente no poder discricionário do poder político, a dizer 'sim, isto existe'/'sim, isto não existe'”, além de “um amplo apoio do ponto de vista parlamentar, para assegurar determinado tipo de soluções”.
“É depois importante um aspeto que muitos têm colocado, que é a importância de assegurar que estes mecanismos não se traduzam no apoio a uma manutenção de um determinado tipo de estruturas e até de práticas do sistema de comunicação social”, conclui.
João Taborda da Gama, que partilha o espaço de comentário na Renascença com o presidente da Câmara de Lisboa, concorda com o financiamento, mas critica as propostas avançadas de intervenção do Estado.
“Parece-me uma solução do início do século XX para um problema do século XXI”, refere, chamando a atenção para duas questões: “a remuneração dos jornalistas e como é possível atuar sobre isso – como noutras áreas, a remuneração tem impacto potencial na transparência, na independência, na qualidade e há muitos anos que está estagnada -; outra questão para que é preciso olhar de forma diferente é a comunicação social local [pois] pode motivar respostas diferentes”.
Antes deste debate sobre o financiamento da comunicação social, os dois comentadores falaram sobre a chegada de Greta Thunberg a Lisboa. A partir da Doca de Alcântara, onde nesta terça-feira de manhã chega a ativista sueca, Fernando Medina defende que “no caso de Lisboa e do país, é muito claro o compromisso que existe no combate às alterações climáticas” e diz que irá agradecer a Greta “o empenho e visibilidade que tem dado a esta luta tão importante”.
João Taborda da Gama considera, por outro lado, que “a reação popular à chegada de Greta Thunberg é um flop”.
“Esperava que tivesse uma receção apoteótica, pelo menos tão grande quanto as manifestações que motivou e, pelo que ouço, há um conjunto de ativistas e um conjunto de políticos, mas aquela mobilização de base – que é a que nos permite ver se um fenómeno está ou não a surtir efeito – não me parece, o que é relevante”, analisa.
Na opinião deste comentador, “Marcelo não quis estar, porque não se quis comprometer com esta forma de ativismo”.
“Não temos uma adesão popular massiva a este fenómeno”, conclui, considerando, tal como Fernando Medina, que “Portugal tem o cadastro limpo” nesta matéria.
“Temos feito o nosso percurso, concertado ao nível global, e é preciso agir com base na melhor ciência disponível”, remata.