O novo livro sobre o caminho de Santiago vai ser apresentado nos claustros da antiga sé de Bragança, no próximo dia 16 de julho, às 21h30.
Chama-se "Santiago a caminho de Compostela" e retrata a experiência de José Vaz Carreto, juiz desembargador, a exercer funções no Tribunal da Relação do Porto, que percorreu a pé a ancestral rota do Caminho Português Central, desde a Sé Catedral do Porto até à Praça do Obradoiro, em Santiago de Compostela.
“O livro é obra do acaso ou talvez não. Surge de ter sentido necessidade de escrever quando estávamos a meio do caminho. Ao longo do caminho e entre etapas escrevia e revia o caminho. No final dei a conhecer a duas ou três pessoas que nos acompanhavam o que tinha escrito e houve alguém que disse que merecia ser publicado”, conta o autor à Renascença.
E o livro está aí, com edição da Farol. E permite “ver para além do olhar, uma viagem onde o caminho é a resposta”.
Sim, porque, segundo José Vaz Carreto, numa primeira fase da viagem, descobrem-se “as razões profundas que nos levam a arriscar esta peregrinação intemporal”. Depois, e à medida que o caminho é palmilhado, “vamos sendo conquistados por aquilo que o caminho tem oferecido desde sempre: a cultura, a história e os monumentos que as preservam, o sofrimento, a alegria e a superação”.
“No final, tornar-se-á num indivíduo novo… ou talvez não. Garantidamente, será diferente, envolto na mística do caminho e dos seus mistérios”, assinala o autor.
As marcas do caminho que ficam para a vida
Do caminho Português Central, José Vaz Carreto guarda várias marcas que se prolongarão no tempo e que nem todas podem ser descritas.
A primeira, conta, “é uma consciência diferente do que é o caminho de Santiago”; depois, “os efeitos que advêm da solidariedade que se sente no caminho, um sentimento de entreajuda entre os peregrinos, a amizade que nasce e permanece depois do caminho feito, a cumplicidade que se evidencia quer entre os peregrinos quer entre as pessoas com quem nos encontramos e que moram no caminho”.
Permanece também “um pensamento inquietante que é este: porque é que milhares de pessoas fizeram e fazem o caminho mais ou menos conscientes de que em Santiago, provavelmente, não estará o corpo do apóstolo? E isso, neste âmbito, é completamente irrelevante”, diz.
“E depois, há uma coisa muito importante que é a saudação do caminho - o 'bom caminho'. É claro que há depois uma marca que se nota entre os peregrinos e que se nota nas redes sociais, é aquela expressão ‘eu já fiz o caminho de Santiago’”, acrescenta.
Do caminho que se fez livro, ficam, então, importantes lições para a vida, desde logo a descoberta de que “o conhecimento e aceitação do outro são a principal vitória espiritual na vida”.
“Antes de tudo, ficam as marcas que nos interrogam no dia a dia, todas essas que nos ficaram do caminho porque é o gesto, são as atitudes que temos no caminho que temos ou devemos ter no dia a dia e, depois, há o desprendimento no caminho, tudo o que é supérfluo e aquilo que temos a mais e que não nos faz falta efetivamente, para procurar ser felizes e fazer felizes os outros”, explica à José Vaz Carreto
“É preciso comer o caminho”
E a partir da experiência pessoal, José Vaz Carreto partilha com a Renascença algumas sugestões para quem pense em fazer o caminho de Santiago.
“A primeira sugestão, e a mais importante e a mais difícil, é que faça o caminho a pé”, diz José Vaz Carreto, porque “é a única maneira de terem tempo e de verem, apreciarem o caminho, porque o caminho tem vida, o caminho tem um espírito próprio e é necessário apreciar o caminho e saboreá-lo, mais do que isso, é preciso comer o caminho, cada passo que nós damos no caminho, nós vamos descobrindo coisas novas, coisas diferentes, temos tempo coisas que, hoje em dia, parece que não há, e no caminho temos necessariamente que ter tempo”.
“E, depois, o caminho não é só andar, o caminho também é parar, parar e ver aquilo que está à nossa volta, admirar a obra da criação, a natureza, admirar todo o património e toda a cultura. É importante lembrar que são mais de mil anos de caminho e que um caminho é, efetivamente, não apenas um património da humanidade, mas um itinerário cultural europeu”, conclui.
Natural do Sabugal, José Vaz Carreto está radicado em Vinhais. Juiz de Direito desde 1987, percorreu, durante 20 anos, as comarcas de Trás-os-Montes e Alto Douro. É Juiz Desembargador desde 2007, e exerce funções no Tribunal da Relação do Porto. Membro do Secretariado da Pastoral da Cultura e do Turismo da Diocese de Bragança-Miranda, é também dirigente do Corpo Nacional de Escutas.
José Carreto é também autor de “A suspensão parcial da pena de prisão e a reparação do dano”, das Edições Almedina.
O novo livro vai ser apresentado pelo reitor do Seminário Maior de S. José e assistente do Secretariado diocesano da Pastoral da Cultura e Turismo, padre António Magalhães, numa cerimónia pública, ao ar livre, onde marcará presença também o bispo da Diocese de Bragança, D. José Cordeiro.