É uma das preocupações mais prementes na parentalidade do século XXI: garantir uma relação saudável e segura dos filhos com o mundo dos ecrãs.
Tito de Morais lidera há 19 anos o projeto “Miúdos Seguros na Net”. Em declarações à Renascença deixa alguns conselhos aos pais para acompanhar a vida online dos filhos.
- Acompanhar ativamente e desde cedo
Os pais devem não só acompanhar, mas também usarem as tecnologias com os filhos, ou seja, serem pais online. Esta atitude deve começar “desde uma idade tenra, pois se se começa na adolescência ou pré-adolescência já vamos tarde porque eles já criaram rotinas”. É algo que tem de começar desde pequenino, começarmos a usar as mesmas ferramentas que eles usam, orientar, guiar, ser os mentores digitais.
Isso significa até jogar o mesmo jogo que eles, senão não sabe do que estão a falar, Se não quiser jogar, sente-se ao lado, ver jogar e fazer perguntas.
- Acompanhamento progressivo
Quando são mais novos é como no dia a dia: “pegar pela mão, orientar, escolher os sites por eles”. Os controlos parentais nessa fase “são importantes” pois permitem não só para controlar o tipo de conteúdos a que têm acesso, mas também relativamente ao tempo de utilização.
À medida que as crianças vão crescendo, deve-se mudar a forma como interagimos com eles. Eles vão querer escolher o que veem e vão ganhando autonomia e é “muito importante estimular a autonomia”, pois a ideia não é “sermos polícias dos nossos filhos”. O diálogo é essencial, deve-se perguntar o que fazem online, que sites visitam, quais são as fontes de informação deles. Deve-se falar sobres os benefícios da tecnologia, mas também alertar para os riscos e cuidados básicos, nomeadamente a não revelação de dados pessoais ou eventuais consumos online.
- A que sinais de alarme deve estar atento?
De forma genérica, este especialista recomenda que se esteja alerta a “tudo o que seja alteração do comportamento habitual”. Tito de Morais lembra que, perante essa mudança, “importa averiguar e deve-se conversar e tentar perceber o que está por trás dessa alteração de comportamento”.
Já sobre como distinguir entre o que é um entusiamo normal com a vida online ou uma dependência dos ecrãs, Tito de Morais recorda que desde o início deste ano que a Organização Mundial da Saúde passou a considerar como uma doença o uso problemático dos videojogos e que há critérios concretos para fazer esse diagnóstico, por exemplo, incapacidade de parar de jogar ou demonstração de atos de agressividade. No entanto, diz Tito de Morais, esses critérios devem ser observados durante pelo menos 12 meses.
- O que fazer em caso de problemas
Tito de Morais reforça a importância de manter canais de comunicação abertos com os filhos para saber ao certo o que se passa. Se se tratar de situações que envolvam crime, é muito importante fazer a denúncia às autoridades e garantir acompanhamento psicológico, caso seja necessário.
Este especialista lembra que existe software de monitorização, um “software espião que consegue perceber tudo o que é feito num determinado computador”. Em circunstâncias normais, Tito de Morais desaconselha porque é “extremamente invasivo na privacidade das crianças”, mas o seu uso pode ser justificado nalgumas circunstâncias graves, por exemplo, suspeita de aliciamento sexual através da internet ou cyberbullying, para confirmar ou desmentir essa realidade.
- Segurança total nunca está garantida
Apesar destes conselhos, o especialista diz que “não há garantias”. “Estar vivo é um risco, nem precisamos de sair de casa para haver um acidente e com a internet é a mesma coisa.”