O Presidente da República pediu hoje em Budapeste que todos se foquem no jogo da seleção portuguesa de futebol contra a Hungria e recusou comentar as palavras do primeiro-ministro, que afastou um conflito institucional entre os dois.
"Hoje é dia de futebol, e aqui estamos todos unidos em torno do futebol e, portanto, eu não vou agora estar a falar de outros temas, porque é desconcentrar o fundamental. Temos de estar focados, e estamos todos focados: o senhor primeiro-ministro, o senhor presidente da Assembleia da República, eu próprio, o senhor presidente [da Federação Portuguesa de Futebol] Fernando Gomes, os portugueses todos", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
O chefe de Estado, que prestava declarações a órgãos de comunicação social, em Budapeste, transmitidas em direto pelas televisões, antes do primeiro jogo de Portugal na fase final do Euro2020, não quis voltar ao tema da possibilidade ou não de haver um retrocesso no desconfinamento, face à evolução da covid-19 em Portugal: "Eu não vou agora estar a falar naquela coisa que já falei tantas vezes, tantas vezes, tantas vezes". .
Interrogado se considera, como António Costa, que está em causa um mal entendido, o Presidente da República retorquiu: "Eu sei, eu percebo a vossa curiosidade, mas o que eu estou a tentar explicar é que estou no estrangeiro, estou focado num objetivo, que é um objetivo nacional, e não posso estar agora a desviar desse objetivo. Vamos focar nesse objetivo".
Na segunda-feira à noite, após o primeiro-ministro ter dito que todos os portugueses o desejam mas que ninguém pode garantir que não vai haver um recuo no processo de desconfinamento, "nem o senhor Presidente da República seguramente o pode fazer, nem o fez", os jornalistas perguntaram a Marcelo Rebelo de Sousa, já em Budapeste, se não se sentiu desautorizado por António Costa. .
"Eu não falo daquilo que se passa lá", começou por responder o chefe de Estado. "Por definição, o Presidente nunca é desautorizado pelo primeiro-ministro. Quem nomeia o primeiro-ministro é o Presidente, não é o primeiro-ministro que nomeia o Presidente", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, entrando de seguida no carro.
Hoje, no Quartel do Carmo, em Lisboa, o primeiro-ministro considerou que "só pode haver" aqui um mal entendido, alguma "intriga, confusão, desentendimento", rejeitando que tenha procurado desautorizar o Presidente da República sobre o processo de desconfinamento.
"Nem nunca me passaria pela cabeça desautorizar o senhor Presidente da República. Acho que isso é tudo um equívoco, certamente, entre as perguntas que foram feitas e as respostas que foram dadas", disse António Costa.
No sábado, à saída de uma cerimónia religiosa em Lisboa, o Presidente da República afastou um recuo no desconfinamento, referindo que em Portugal atualmente "a média de mortos é baixíssima, a média de cuidados intensivos é muito baixa, a média de internamentos é também perfeitamente aceitável, a vacinação está a subir".
"São agora uma, duas semanas de números elevados, mas sem stresse grave o Sobre Serviço Nacional de Saúde (SNS) nem uma hipótese de recuo, recuo já não digo para o estado de emergência, ou recuo em termos de confinamentos generalizados e restrições generalizadas", declarou.
No domingo, durante uma visita à Feira da Agricultura, em Santarém, Marcelo Rebelo de Sousa reforçou esta posição: "Já não voltamos para trás. Não é o problema de saber se pode ser, deve ser ou não. Não vai haver, não vai haver. Comigo, não vai haver. Naquilo que depender do Presidente da República, não se volta atrás". .
Em Portugal, já morreram mais de 17 mil doentes com covid-19 e foram contabilizados até agora 857 mil casos de infeção com o novo coronavírus, de acordo com a Direção-Geral da Saúde (DGS).