Os eleitores dos estados-chave da Baviera e Hesse deferiram um golpe aos partidos que compõem a fraturada coligação de centro-esquerda do chanceler alemão, Olaf Scholz, nas eleições de domingo, dominadas pelas crises económica e de migrantes que ajudaram à vitória dos conservadores e da extrema-direita.
As eleições regionais viram o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), até agora cingida a bastiões da era pós-industrial no leste da Alemanha, conquistar os seus melhores resultados de sempre num estado ocidental, Hesse, ficando em segundo lugar nos dois estados.
Os três partidos que integram a coligação do Governo federal - os Social-Democratas, de Scholz, os Verdes e os Democratas Liberais (FDP) - tiveram piores resultados do que nas eleições de há cinco anos nos dois estados, que juntos correspondem a cerca de um quarto da população alemã.
De acordo com os resultados provisórios, na Baviera, e possivelmente em Hesse, o FDP poderá não ter conquistado o mínimo de 5% de votos necessários para entrar nos Parlamentos regionais.
Os analistas dizem que os resultados desta eleições poderão aumentar ainda mais as tensões numa coligação que tem tido dificuldades em encontrar terreno comum, com Scholz a enfrentar acusações de não demonstrar capacidade de liderança para manter a ordem e responder às atuais crises, desde a guerra na Ucrânia até à transição energética.
"Se necessário, o FDP tem de estar preparado para abandonar [a coligação]", defende Thomas Kemmerich, líder do partido no estado de Thueringen, que tem eleições em 2024. "Isto não pode ser um tabu", adiantou, citado pelo jornal alemão The Pioneer.
Jens Spahn, legislador da União Democrata Cristã (CDU), diz que é raro um Governo receber uma repreensão tão abrangente.
"E é raro que seja assim tão claro: quer no que toca às migrações, à economia ou ao clima, as pessoas querem outro tipo de políticas", acrescenta.
Em Hesse, que alberga a capital financeira da Alemanha, Frankfurt, a CDU terá conquistado 34,6% dos votos na legislatura estatal, o que deverá permitir que continue a governar o estado por mais um mandato, apontam projeções da televisão estatal ARD.
O resultado do SPD, que conquistou 15,1% dos votos (menos 4,7% do que em 2018), marca um duro golpe para a atual ministra do Interior, Nancy Faeser, cuja campanha para governar o estado foi marcada por críticas à sua gestão do aumento de chegadas de migrantes em situação irregular.
O falhanço do partido A Esquerda em conquistar um mínimo de 5% de votos para continuar no parlamento de Hesse vem adensar a viragem generalizada à direita.
Entretanto, o CSU, partido-gémeo da CDU, que governa a Baviera desde 1957, terá conquistado 36,4% dos votos naquele estado, o seu pior resultado desde 1950.
Os analistas dizem que isto poderá enfraquecer a potencial candidatura do líder da CSU, Markus Soeder, à chancelaria nas eleições federais de 2025.