Estreia este fim de semana no Teatro Viriato, em Viseu, o espetáculo “Engolir Sapos”, que pretende desmistificar o preconceito em torno da comunidade cigana, que é repelida de espaços públicos através da colocação de sapos de louça que não servem para ornamentar, mas para afastar os membros daquela etnia.
Em Portugal existem entre 40 a 60 mil ciganos, ao mesmo tempo que existem milhares de sapos de loiça em estabelecimentos comerciais.
“Pai, eu vi um sapo no supermercado e no talho e na padaria, e no restaurante e na papelaria e qualquer dia o Alberto vai passar a ficar do lado de fora das portas todas”. O diálogo entre um pai e uma filha em palco sobre os sapos que afastam ciganos.
Uma realidade que o dramaturgo Fernando Giestas, escreveu com base numa investigação no terreno, que envolveu pesquisa em campo, com residências artísticas em diversos territórios: Ílhavo, Ovar, Lisboa, Montemor-o-Velho, Figueira da Foz, Viseu, Nelas, Canas de Senhorim.
O objetivo foi “perceber como as comunidades ciganas vivem, quem é que elas são, como dialogam e fomos à procura do sapo de louça que está à mostra, mais ou menos visível em alguns locais”, descreve Fernando Giestas, que não tem dúvidas do sentido da presença do sapo em espaços públicos.
“Questionámos as pessoas porque colocam os sapos, furtam-se à verdadeira intenção, mas ela é clara, dizer que alguém não é bem-vindo, isso acontece, encontrei sapos em câmaras municipais e piscinas municipais”, recorda.
Este é um espetáculo que choca de frente com o preconceito. “Numa Escola Secundária ouvi um jovem dizer: ‘eu odeio ciganos’, mas nem o próprio jovem sabia explicar o porquê dessa afirmação, odeia porque lhe ensinam, porque paira no ar”, considera Giestas.
Regressamos ao palco e ao julgamento de um sapo, que não tem culpa de um preconceito criado pelo ser humano que ainda assim acredita num mundo melhor.
“Engolir Sapos” é uma coprodução da Amarelo Silvestre, Teatro Viriato, Centro de Arte de Ovar e Teatro Municipal do Porto. Encenação de Rafaela Santos, com interpretação Ricardo Vaz Trindade, Amélia Giestas. A próxima apresentação é em Ovar no dia 23 de março.