O Papa Francisco defendeu esta quinta-feira que as redes sociais só serão uma oportunidade se as pessoas souberem vivenciar na prática as ligações feitas através das tecnologias, passando do “like” ao “ámen”.
A relação entre a comunidade das redes sociais e a comunidade humana é o tema da sua mensagem, hoje divulgada, para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, que será celebrado a 2 de junho.
"Deus não é solidão, mas Comunhão; é amor e, consequentemente, comunicação, porque o amor sempre comunica. (...) Só sou verdadeiramente humano se me relacionar com os outros."
Por isso, adianta, as redes sociais só serão uma oportunidade se se souber vivenciar na prática as conexões feitas através da tecnologia. "É preciso passar do 'like' ao 'ámen'", frisou.
"Esta é a rede que queremos: uma rede feita não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres. A própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos 'likes', mas no 'amém' com que cada um adere ao corpo de Cristo, acolhendo os outros."
No texto, o Papa alerta que a comunidade de redes sociais não é, automaticamente, sinónimo de comunidade e alertou para os riscos que correm os mais jovens.
"É necessário reconhecer que se, por um lado, as redes sociais servem para nos ligarmos melhor, fazendo-nos encontrar e ajudar uns aos outros, por outro, prestam-se também a um uso manipulador dos dados pessoais, visando obter vantagens no plano político ou económico, sem o devido respeito pela pessoa e seus direitos. As estatísticas relativas aos mais jovens revelam que um em cada quatro adolescentes está envolvido em episódios de 'cyberbullying'", disse.
A rede, explica Francisco, é uma oportunidade para promover o encontro com os outros, mas pode também agravar o autoisolamento, como uma teia de aranha capaz de capturar.
"Os adolescentes é que estão mais expostos à ilusão de que a social web possa satisfazê-los completamente a nível relacional, até se chegar ao perigoso fenómeno dos jovens 'eremitas sociais', que correm o risco de se alhear totalmente da sociedade. Esta dinâmica dramática manifesta uma grave rutura no tecido relacional da sociedade, uma laceração que não podemos ignorar.
Na complexidade deste cenário, escreve o papa, pode ser útil voltar a refletir sobre a metáfora da rede, fundamento da internet para ajudar a descobrir as suas potencialidades positivas.
"A figura da rede convida-nos a refletir sobre a multiplicidade de percursos e nós que, na falta de um centro, uma estrutura de tipo hierárquico, uma organização de tipo vertical, asseguram a sua consistência. A rede funciona graças à comparticipação de todos os elementos", disse.
No cenário atual, acrescenta o Papa Francisco, salta aos olhos de todos que a comunidade de redes sociais não seja, automaticamente, sinónimo de comunidade.
"No melhor dos casos, tais comunidades conseguem dar provas de coesão e solidariedade, mas frequentemente permanecem agregados apenas indivíduos que se reconhecem em torno de interesses ou argumentos caracterizados por vínculos frágeis. Além disso, na social web, muitas vezes a identidade funda-se na contraposição ao outro, à pessoa estranha ao grupo: define-se mais a partir daquilo que divide do que daquilo que une, dando espaço à suspeita e à explosão de todo o tipo de preconceito (étnico, sexual, religioso, e outros)", destacou.
Para o Papa, esta tendência alimenta grupos que excluem a heterogeneidade, alimentam no próprio ambiente digital um individualismo desenfreado, acabando às vezes por fomentar espirais de ódio.
"E, assim, aquela que deveria ser uma janela aberta para o mundo, torna-se uma vitrina onde se exibe o próprio narcisismo", disse.
O Papa explicou ainda que desde que se tornou possível dispor da internet, a igreja tem sempre procurado que o seu uso sirva o encontro das pessoas e a solidariedade entre todos.
Com a mensagem agora divulgada o papa diz que convida à reflexão "sobre o fundamento e a importância do nosso ser em relação e descobrir, nos vastos desafios do atual panorama comunicativo, o desejo que o homem tem de não ficar encerrado a própria solidão".