Não é uma novidade nos EUA. Há muito que os conselhos editoriais dos principais jornais norte-americanos apoiam publicamente um candidato, seja democrata ou republicano, nas eleições presidenciais.
O “The New York Times”, por exemplo, fá-lo desde 1860, tendo nas últimas eleições apoiado Hillary Clinton frente a Donald Trump.
Este ano, porém, o diário introduziu algumas mudanças na escolha. Desde logo, e ao contrário do que havia feito em outros anos, resolveu não apoiar o candidato mais popular junto ao “establishment” do partido (esse seria Joe Biden), tendo optado, não por um, mas por dois candidatos democratas, ambos mulheres: as senadoras Amy Klobuchar e Elizabeth Warren.
O “The New York Times” alterou igualmente a sua abordagem no processo de escolha do candidato favorito, publicando entrevistas com os candidatos e detalhes sobre o processo de escolha através de uma edição especial.
Quando faltam apenas duas semanas para o tiro de partida nas primárias democratas (começam a 3 de fevereiro no Iowa, seguindo-se New Hampshire na semana seguinte), o diário norte-americano defende que “Warren e Klobuchar são, neste momento, as democratas mais bem equipadas para liderar esse debate”.
O jornal explicou ainda a escolha por duas candidatas algo distintas politicamente. É que se a senadora do Minnesota Amy Klobuchar pertence à chamada ala moderada do Partido Democrata, a senadora de Massachusetts Elizabeth Warren faz parte de uma mais progressista.
“Neste momento perigoso, tanto o modelo radical como o realista merecem séria consideração. Por esse motivo, rompemos com as convenções e damos o nosso apoio não a um, mas a dois candidatos”, justificou o diário norte-americano.
Segundo o conselho editorial do “The New York Times”, Elizabeth Warren tem-se revelado “uma brilhante arquiteta da regulação”. E acrescenta: “Ficámos surpreendidos com a eficácia com que a sua mensagem tem estado à altura do momento”. Já a candidata Amy Klobuchar apresenta um “currículo extenso”, sendo igualmente uma “negociadora valiosa”. “Ela mostrou que pode unir o partido e talvez a nação”, acrescenta o jornal.
Quando ao candidato Joe Biden, o “The New York Times” dedica-lhe também algum espaço, reconhecendo ao ex-vice de Barack Obama os seus anos de experiência governativa, mas observando também que a sua idade (77 anos) e gafes esporádicas podem ser um entrave nas eleições presidenciais. “É hora de passar a vez a uma nova geração de líderes políticos", aponta o jornal.
As duas senadoras já reagiram, ambas no Twitter, à escolha do “The New York Times”. Mas enquanto Klobuchar declarou ser “uma honra” receber o apoio daquele jornal, Warren optou por lançar farpas a outro candidato: Bernie Sanders.
“Klobuchar e eu somos ambas invencíveis em eleições e no apoio do 'The New York Times’!”, escreveu a senadora do Massachusetts. A referência de Warren é às declarações por ela feitas antes do debate (com seis candidatos à nomeação democrata) da última terça-feira, quando revelou que Sanders, senador do Vermont, lhe terá dito, em 2018, que uma mulher não poderia vencer as eleições.
Apesar de Sanders negar no debate ter dito isso, Elizabeth Warren contra-atacou: “Olhem para os homens que estão neste palco. Coletivamente já perderam dez eleições. As únicas pessoas neste palco que venceram todas as eleições em que participaram são as mulheres: a Amy e eu”.