A campanha para as legislativas de domingo revelou que a comunicação social perdeu o exclusivo da marcação da agenda para alguns atores políticos, como André Ventura e o Chega, que têm "mais alcance nas redes sociais".
"No paradigma dos mass media, eram os meios de comunicação social que estabeleciam a agenda", mas a campanha eleitoral atual revelou que "há outros atores das redes que têm esse poder", afirmou à Lusa José Moreno, um dos investigadores do MediaLab do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL). Esses atores são políticos como André Ventura, presidente do Chega, que "têm mais alcance nas redes sociais" e, quando "publicam alguma coisa", isso "vai refletir-se depois, como uma bola de neve, nas redes sociais".
Outro dos responsáveis do projeto do MediaLab do ISCTE, José Moreno, relativiza o facto de se terem encontrado muitos conteúdos de desinformação nas redes, explicando como circulam e como chegam aos cidadãos.
Algumas dessas narrativas nascem de uma forma sui generis, descrita pelos investigadores. Muitas vezes, um conteúdo surgia num grupo fechado do WhatsApp, do Chega, por exemplo, depois "saltava" para os medias sociais abertos, como o Facebook, Instagram, X (ex-Twitter) e TikTok, onde era aproveitado por atores como alcance nas redes, como André Ventura.
Quando Ventura e Chega "publicam alguma coisa" isso reflete-se "depois como uma bola de neve nas redes sociais", disse José Moreno. "A desinformação funciona assim", descreveu. Não quer dizer que Ventura "produza desinformação, quer dizer que ele amplifica narrativas que podem ser desinformativas".
O processo de como os conteúdos ganham dimensão tem explicações múltiplas. Segundo José Moreno, na pesquisa do MediaLab nas redes sociais não se vê "grande desinformação" nem se vê "grande interesse pela política" em quem procura e navega no Instagram ou X (ex-Twitter). A desinformação funciona "da mesma maneira que a televisão", disse Gustavo Cardoso: "Há muito mais gente a ver a novela do que a ver o telejornal."
E acrescenta: não há muitas pessoas à procura de informação nas redes sobre Pedro Nuno Santos, sobre o PS, sobre salários, ou sobre Luís Montenegro, AD, preferindo procurar posts do seu interesse pessoal. "As pessoas não a buscam. Por isso é que a desinformação tem de ser paga", resume.
E o que está a passar-se em Portugal "aconteceu nos Estados Unidos com Donald Trump, como aconteceu no Brasil com Jair Bolsonaro", afirmou.
Gustavo Cardoso destacou ainda o papel das plataformas para remover conteúdos que foram descobertos pelo trabalho do MediaLab do ISCTE e por fact-checkers durante as semanas de campanha. "Sem o contacto direto com as plataformas depois não é possível remover nada. Portanto, a desinformação continuaria e os prejudicados seriam os partidos e depois os cidadãos", disse.