Observatório quer acompanhar liberdade religiosa no mundo a partir do "paraíso"
14-01-2015 - 22:08
• Filipe d’Avillez
O "paraíso" é Portugal, onde as religiões convivem sem os problemas da generalidade dos países da Europa. Em todo o mundo, a religião vai ganhando peso social e político, seja pelos extremismos, pelos excessos de um secularismo que pretende afastá-la da praça pública ou pela colagem entre política e fé.
Portugal é um "paraíso" em matéria de liberdade religiosa e convívio entre credos, diz o líder da Comunidade Islâmica de Lisboa, Abdool Karim Vakil.
"Eu faço parte do European Muslim Network, um 'think-tank' do Islão, e, numa das reuniões, estivemos a falar com várias entidades sobre o Islão nos nossos países. Veio a minha vez e eu disse que estou há 50 e tal anos em Portugal e nunca tive problemas nenhuns. Pratico livremente a minha religião, ninguém me incomoda. Uma senhora da plateia perguntou 'você vive no paraíso?'", conta Vakil, no contexto de um debate realizado em Lisboa, para assinalar o lançamento do Observatório para a Liberdade Religiosa.
A resposta: "É capaz de ser o paraíso, mas, tirando alguma excepção que deve haver, vivo num país em que nunca ninguém me molestou."
Este quadro de Portugal contrasta com o resto da Europa, no que diz respeito ao islão, mas não só. António Caria Mendes, da Associação de Amizade Portugal-Israel, diz que para o judaísmo passa-se o mesmo, como constatou numa reunião semelhante, para organizações judaicas.
"Eu senti-me um senhor, ali, porque o que eu podia dizer de Portugal não se passava no resto da Europa. Eu via que tinham medo, inclusivamente em países como a Noruega. Não há pânico, mas os judeus estão a fugir da Noruega", conta.
Caria Mendes refere-se ainda aos países que têm passado leis a proibir práticas essenciais para o judaísmo, como a matança ritual de carne para alimentação ou a circuncisão, decisões que afectam tanto judeus como muçulmanos. "Inclusivamente, há países onde estão a tentar pôr-nos, a nós e aos muçulmanos, de lado, através da proibição da circuncisão", sublinha.
Pelas mais diversas razões, a religião volta a ganhar peso na Europa, seja pelo aumento da ameaça terrorista, seja pelo secularismo em excesso - que pretende empurrar as manifestações de fé para fora da praça pública -, seja pela colagem da política à religião, como acontece com cada vez mais frequência na Rússia, como explica o jornalista José Milhazes.
"É cada vez mais evidente que o Estado e a igreja Ortodoxa se estão a juntar. Não obstante a triste experiência do passado, volta-se a repetir aquilo que eu acho um erro, que é a Igreja e o poder aproximarem-se. Isso cria determinados privilégios para esse culto em relação aos outros, visto que a Rússia é um país multirreligioso, habitado por mais de 100 povos e com cerca de 20% de muçulmanos", afirma Milhazes.
Para este especialista em assuntos russos, é importante traçar um meio-termo entre o que se passa na Europa secular e em países como a Rússia: "Por um lado, acho que a Europa não se deve esquecer das suas bases. Temos bases judaico-cristãs e devemos ter isso presente. Na Rússia, digamos que exageram, ou seja, cria-se um campo para a intolerância face a determinados grupos, como no caso dos homossexuais".
"A Europa dá provas de tolerância, e muito bem, mas essa tolerância não pode chegar ao ponto de ser origem de intolerância para com a própria Europa. Acho impressionante quando dirigentes radicais islâmicos vivem livremente, recebem refúgio político e podem pregar as suas ideias, em Paris ou em Londres", declara José Milhazes.
É para acompanhar esta e outras situações que foi criado o Observatório para a Liberdade Religiosa, lançado oficialmente esta quarta-feira, com a realização de um debate sobre a realidade da liberdade religiosa no mundo actual, na junta de freguesia da Misericórdia, em Lisboa.
O observatório está ligado ao departamento de Ciências Religiosas da Universidade Lusófona e tem entre os seus fundadores e principais colaboradores figuras como Alexandre Honrado, Paulo Mendes Pinto e o jornalista Joaquim Franco.
"Eu faço parte do European Muslim Network, um 'think-tank' do Islão, e, numa das reuniões, estivemos a falar com várias entidades sobre o Islão nos nossos países. Veio a minha vez e eu disse que estou há 50 e tal anos em Portugal e nunca tive problemas nenhuns. Pratico livremente a minha religião, ninguém me incomoda. Uma senhora da plateia perguntou 'você vive no paraíso?'", conta Vakil, no contexto de um debate realizado em Lisboa, para assinalar o lançamento do Observatório para a Liberdade Religiosa.
A resposta: "É capaz de ser o paraíso, mas, tirando alguma excepção que deve haver, vivo num país em que nunca ninguém me molestou."
Este quadro de Portugal contrasta com o resto da Europa, no que diz respeito ao islão, mas não só. António Caria Mendes, da Associação de Amizade Portugal-Israel, diz que para o judaísmo passa-se o mesmo, como constatou numa reunião semelhante, para organizações judaicas.
"Eu senti-me um senhor, ali, porque o que eu podia dizer de Portugal não se passava no resto da Europa. Eu via que tinham medo, inclusivamente em países como a Noruega. Não há pânico, mas os judeus estão a fugir da Noruega", conta.
Caria Mendes refere-se ainda aos países que têm passado leis a proibir práticas essenciais para o judaísmo, como a matança ritual de carne para alimentação ou a circuncisão, decisões que afectam tanto judeus como muçulmanos. "Inclusivamente, há países onde estão a tentar pôr-nos, a nós e aos muçulmanos, de lado, através da proibição da circuncisão", sublinha.
Pelas mais diversas razões, a religião volta a ganhar peso na Europa, seja pelo aumento da ameaça terrorista, seja pelo secularismo em excesso - que pretende empurrar as manifestações de fé para fora da praça pública -, seja pela colagem da política à religião, como acontece com cada vez mais frequência na Rússia, como explica o jornalista José Milhazes.
"É cada vez mais evidente que o Estado e a igreja Ortodoxa se estão a juntar. Não obstante a triste experiência do passado, volta-se a repetir aquilo que eu acho um erro, que é a Igreja e o poder aproximarem-se. Isso cria determinados privilégios para esse culto em relação aos outros, visto que a Rússia é um país multirreligioso, habitado por mais de 100 povos e com cerca de 20% de muçulmanos", afirma Milhazes.
Para este especialista em assuntos russos, é importante traçar um meio-termo entre o que se passa na Europa secular e em países como a Rússia: "Por um lado, acho que a Europa não se deve esquecer das suas bases. Temos bases judaico-cristãs e devemos ter isso presente. Na Rússia, digamos que exageram, ou seja, cria-se um campo para a intolerância face a determinados grupos, como no caso dos homossexuais".
"A Europa dá provas de tolerância, e muito bem, mas essa tolerância não pode chegar ao ponto de ser origem de intolerância para com a própria Europa. Acho impressionante quando dirigentes radicais islâmicos vivem livremente, recebem refúgio político e podem pregar as suas ideias, em Paris ou em Londres", declara José Milhazes.
É para acompanhar esta e outras situações que foi criado o Observatório para a Liberdade Religiosa, lançado oficialmente esta quarta-feira, com a realização de um debate sobre a realidade da liberdade religiosa no mundo actual, na junta de freguesia da Misericórdia, em Lisboa.
O observatório está ligado ao departamento de Ciências Religiosas da Universidade Lusófona e tem entre os seus fundadores e principais colaboradores figuras como Alexandre Honrado, Paulo Mendes Pinto e o jornalista Joaquim Franco.