No sábado o Governo apresentou um grande número de medidas com três finalidades: indemnizar as famílias das vítimas e ajudar a recuperar o que os incêndios destruíram (casas, empresas, culturas, etc.), melhorar a eficácia do combate aos fogos e reformar a floresta. Este último ponto foi agora o menos tratado, devendo em breve ser objecto de medidas estruturais.
Não se dissipou a dúvida sobre se tudo isso será concretizado. As pessoas sabem que o Pinhal de Leiria é do Estado, que o desprezou, ardendo 80% dos pinheiros. E as leis sobre limpeza das matas, em particular junto às estradas, já existiam (embora menos exigentes do que as anunciadas no sábado), mas quase ninguém se preocupava com o seu cumprimento. É a nossa velha tendência de fazer muitas leis e não cuidar de saber se são ou não cumpridas.
Também não contribui para a credibilidade do Governo a fraca atenção que deu à seca extrema, que agravou os incêndios florestais. Há muito que, pelo menos, deveriam ter sido lançadas campanhas para a poupança no consumo de água. E impostas restrições na utilização desse bem cada vez mais escasso.
Os enormes incêndios deste ano vão agravar o despovoamento do interior. E prejudicam o turismo rural, sobretudo na zona centro do país. É um ciclo vicioso: como diminui a população no interior, aumenta o risco de os fogos alastrarem antes de começarem a ser combatidos; e os fogos afastam as pessoas que ainda vivem no interior.
A questão de fundo, porém, é outra: como travar o despovoamento do interior? A tendência para viver em cidades é universal. É dramática a situação dos idosos que sobrevivem em aldeias com meia dúzia de habitantes, ou ainda menos.
Essas pessoas devem ser apoiadas. Mas não se vê que as aldeias, na sua grande maioria, possam manter-se durante muito tempo. Ali não há ensino secundário, nem comércio, nem serviços públicos, nem empregos.
Terá então que se desenhar uma estratégia, e não apenas no papel, para tentar agrupar aldeias em cidades que tenham escala suficiente para nelas se instalarem serviços públicos e empresas privadas. Tarefa difícil que custará muito dinheiro.
Mas sem uma estratégia clara e coerente não vale a pena invocar a importância de combater a crescente desertificação do interior. Já chega de belos discursos sem consequências – por isso o último discurso do Presidente da República foi tão justamente aplaudido.