Morreu, esta terça-feira, Ruben Carvalho, jornalista e membro do Comité Central do PCP. A notícia já foi confirmada pela Renascença. Segundo o Partido Comunista, a morte resultou de “problemas de saúde que exigiram internamento hospitalar”.
De acordo com o “Jornal de Notícias”, Ruben de Carvalho morreu durante a madrugada no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Nascido em 21 de julho de 1944, Ruben Luís Tristão de Carvalho e Silva chegou à política e ao PCP influenciado pela família e pelo contexto político e social dos anos 50, que “empurraram as pessoas para a esquerda”, segundo disse numa entrevista ao “Observador” (2016).
Hoje, era o único membro do Comité Central do Partido Comunista Português que esteve preso nas cadeias da PIDE durante o Estado Novo.
Mas a vida Ruben de Carvalho não se fez apenas na política. A sua ligação à cultura é referida por muitos dos que consigo conviveram. No comunicado enviado às redações, o PCP destaca o “contributo de grande relevo” que Ruben de Carvalho “deixou à sociedade portuguesa no conhecimento da música, na sua dimensão artística, cultural e social, no plano nacional e internacional, das suas raízes populares à sua dimensão erudita”.
O "homem de combate"
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, recorda o histórico dirigente do partido como "um homem de combate e de confronto de ideias", mas também um cidadão "de projeto", que lutou pela liberdade e pela democracia.
Mesmo aqueles que tinham "divergências profundas, sempre tiveram grande respeito pela intervenção do Ruben neste diálogo com quem discordava, mas simultaneamente respeitava", sublinha Jerónimo de Sousa.
"Ruben de Carvalho abraçou, durante toda a sua vida, a luta pelo projeto do partido que o animava, que o acompanhou durante toda a sua vida, e é neste quadro que podemos dizer que era um homem de projeto, um homem que lutou pela liberdade, pela democracia, que tinha o seu projeto de luta pelo fim da exploração do homem pelo homem, na luta pelo socialismo e pelo comunismo", destaca ainda.
Na sua reação à morte de Ruben de Carvalho, o secretário-geral comunista apresenta "profundas condolências", em nome do Secretariado do Comité Central do PCP, "à sua companheira de sempre".
Um currículo cheio
Ruben de Carvalho foi chefe de redação da revista "Vida Mundial", redator coordenador do jornal "O Século", chefe de redação do semanário "Avante!" e diretor na rádio "Telefonia de Lisboa".
Foi ainda membro do Conselho de Opinião da RTP em 2002 e comentador da SIC Notícias. Na RDP1, participou no programa "Radicais Livres", onde debatia temas de atualidade com Jaime Nogueira Pinto.
Ruben de Carvalho foi chefe de gabinete do ministro sem pasta Francisco Pereira de Moura, no primeiro Governo Provisório depois da Revolução do 25 de Abril e integrou o executivo da comissão organizadora da Festa do Avante desde 1976.
Foi membro das “comissões juvenis de apoio” à candidatura do General Humberto Delgado, vice-presidente da Comissão Pró-Associação dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa e membro do Secretariado da Comissão de Apoio à Candidatura da Oposição Democrática às “eleições” para a Assembleia Nacional.
Foi membro do executivo da comissão democrática eleitoral (CDE) de Lisboa.
Integrou também a comissão executiva das Festas de Lisboa e da comissão municipal de Preparação de LISBOA 94 – Capital Europeia da Cultura.
Foi deputado à Assembleia da República eleito pelo distrito de Setúbal e vereador desde 2005 na Câmara Municipal de Lisboa, onde atualmente era responsável pelo Roteiro do Antifascismo.
O PCP destaca o “intelectual comunista”, que “assumiu uma intervenção destacada na atividade do partido, tendo desempenhado importantes tarefas, cargos e responsabilidades”.
“Ruben de Carvalho teve uma vida de intervenção e de luta na resistência antifascista, no movimento associativo estudantil, abraçou com intensidade a Revolução de Abril e defendeu os seus valores e conquistas. Destacou-se no jornalismo, na imprensa e na rádio”, resume o Partido Comunista no comunicado.
“O Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português, lamenta profundamente o falecimento do camarada Ruben de Carvalho e apresenta as mais sentidas condolências à sua família, em especial à camarada Madalena Santos, sua companheira de vida e luta”, conclui.
“Um grande valor de intervenção”
O escritor Mário de Carvalho considera que “o Partido Comunista perde um valor, um grande valor de intervenção”.
Em declarações à Renascença, o dramaturgo, também com 74 anos, recorda a personalidade do organizador da Festa do Avante e a sua ligação com a cultura.
“Era uma pessoa culta, inteligente, interessada e com um enorme poder de convicção e uma imensa facilidade de palavra. Sempre admirei a sua coragem, o seu interesse pela cultura, pelo cinema, pela literatura, pelos livros e a veemência com que o Ruben intervinha e defendia os seus pontos de vista”, refere.
“Uma grande perda para todos nós”
Ruben de Carvalho foi alguém que contribuiu para a conquista da liberdade em Portugal, destaca Domingos Abrantes, atual conselheiro de Estado e militante do PCP.
“Um homem de vasta cultura, um grande conhecedor da vida da cidade de Lisboa; deu uma enorme contribuição em várias áreas do partido e da cultura e, portanto, vamos recordá-lo com essas características e, sobretudo, pela contribuição que deu para a conquista da liberdade, para a construção do Portugal democrático”, refere o histórico comunista que, tal como Ruben de Carvalho, foi um preso da PIDE (veja aqui a reportagem da Renascença sobre os presos da Fortaleza de Peniche).
“Temos de nos inclinar perante a morte de uma pessoa com esta figura. Creio que é uma grande perda para todos nós”, remata Domingos Abrantes, em declarações à Renascença.