Sem diálogo, sem comunhão, somos como cegos, disse esta sexta-feira o Papa Francisco à comunidade católica de Chipre, numa missa celebrada no Estádio GSP, em Nicósia.
Chipre é um país de esmagadora maioria ortodoxa. A pequena comunidade católica é composta por alguns cipriotas, mas maioritariamente por imigrantes e um grupo significativo de católicos de rito oriental, maronitas, com raízes no Líbano. A variedade cultural e linguística ficou bem patente na liturgia, que foi celebrada em várias línguas.
Francisco já tinha elogiado a riqueza desta variedade num discurso na quinta-feira, mas na sua homilia alertou também para os perigos dessa situação, caso não seja feito um esforço para caminhar em conjunto.
“Perante toda a escuridão pessoal e os desafios que enfrentamos na Igreja e na sociedade, somos chamados a renovar a fraternidade. Se permanecermos divididos entre nós, se cada um pensar apenas em si mesmo ou no seu grupo, se não nos relacionarmos, não dialogarmos, não caminharmos unidos, não nos poderemos curar plenamente da cegueira”, disse o Papa, aludindo ao Evangelho do dia, sobre dois cegos que pedem a cura a Cristo.
“A cura verifica-se quando carregamos juntos as feridas, quando enfrentamos juntos os problemas, quando nos ouvimos e conversamos. É a graça de viver em comunidade, de compreender o valor de ser comunidade. Peço, para vós, que possais estar sempre juntos, viver sempre unidos e prosseguir jubilosamente assim: irmãos cristãos, filhos do único Pai. E peço-o também para mim.”
Voltando ao exemplo dos dois cegos, Francisco realçou o facto de, de entre todos os que escutavam Jesus, apenas estes terem verdadeiramente visto a sua essência. “E por que motivo, irmãos e irmãs, confiam em Jesus estas duas pessoas? Porque percebem que Ele, na escuridão da história, é a luz que ilumina as noites do coração e do mundo, derrota as trevas e vence toda a cegueira.”
“Como sabemos, também nós trazemos a cegueira no coração. Também nós, como os dois cegos, somos caminhantes muitas vezes imersos nas trevas da vida. A primeira coisa a fazer é ir ter com Jesus”, explica Francisco.
O Papa terminou a sua homilia com um apelo à evangelização, mas que deve ser sobretudo alcançada pelo exemplo, e não apenas por palavras vazias.
“Não se trata de proselitismo, mas de testemunho; nem dum moralismo que condena, mas de misericórdia que abraça; nem de culto exterior, mas de amor vivido. Encorajo-vos a prosseguir por este caminho”, encorajou Francisco.
O programa do Papa para esta sexta-feira contém apenas mais um evento. Francisco preside a uma celebração ecuménica às 14h, hora de Lisboa, que tem como centro os imigrantes e refugiados.
No sábado de manhã o Papa parte de Chipre para a Grécia, onde fica até segunda-feira.