Na segunda-feira passada novos abalos de
terra ocorreram na fronteira entre a Turquia e a Síria, adicionando mais
vítimas aos quase 50 mil mortos causados pelos sismos de há duas semanas. Agora
só por milagre será possível encontrar pessoas vivas nos escombros dos
terramotos anteriores. A situação no norte da Síria é aflitiva, pois o país está
desde 2011 envolvido numa guerra civil, o que não facilita a entrada de apoios
humanitários e de socorro. E é conhecida a brutalidade desumana do ditador
sírio no poder, Bashar al-Assad.
Na Turquia está prevista uma eleição geral para 14 de maio. Ao presidente Erdogan não desagrada a situação de emergência, pois lhe facilita controlar a propaganda da oposição, designadamente travando críticas à lentidão inicial nas operações de socorro. Para já, o partido curdo foi proibido de participar na eleição de maio.
Garantir alguma segurança, incluindo alimentar, aos sobreviventes da tragédia turca é uma tarefa gigantesca. Vinte mil edifícios encontram-se em ruínas e muitos outros não são habitáveis e terão de ser destruídos. Cerca de um milhão de turcos sobrevive em abrigos temporários, que não isolam do frio em muitos casos.
O colapso de tantos edifícios mostra que a legislação anti-sísmica não foi cumprida na Turquia. O presidente Erdogan não está, claro, isento de responsabilidades nesse falhanço. Entretanto, milhares de construtores e promotores imobiliários foram detidos.
Um ponto positivo nesta tragédia foi a solidariedade manifestada à Turquia pela Grécia, tal como já havia acontecido no tremor de terra de 1999. Veremos até quando permanecerá esse ambiente nas relações difíceis entre estes dois países da NATO.
A economia turca sofre de uma inflação superior a 50%. É o resultado de uma mania de Erdogan: ele julga que a alta dos preços se combate descendo, e não subindo, as taxas de juro. Por isso ordena ao banco central turco que siga esta original doutrina. Como autocrata que é, Erdogan não se preocupa com o sofrimento das camadas pobres da população, provocado pelas suas fantasias.
Francisco Sarsfield Cabral