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Novos dados clínicos sobre o remdesivir, o medicamento antiviral experimental da Gilead Sciences, aumentaram a esperença de que seja um tratamento eficaz para o novo coronavírus, que já provocou mais de 224 mil mortos e infetou mais de 3,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Na quarta-feira, dados parciais de três ensaios diferentes ao medicamento foram divulgados, criando um misto de entusiasmo e confusão.
São necessárias muitas análises e mais estudos para entender quais os pacientes com Covid-19 mais propensos a beneficiar com o medicamento se este for considerado eficaz, em que circunstâncias deve o remdesivir ser administrado e se tem algum impacto na taxa de mortalidade.
O que sabemos sobre os resultados da avaliação do Governo dos EUA
O Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (NIAID) divulgou resultados preliminares de um grande estudo aleatorizado sugerindo que pacientes hospitalizados com Covid-19 e complicações pulmonares recuperaram 31% mais rápido com remdesivir do que com um placebo.
No estudo a 1.063 pacientes, o tempo que levou para metade destes recuperar foi de 11 dias com remdesivir e de 15 dias para pacientes no grupo placebo.
Os dados também sugerem um possível benefício de sobrevivência com o remdesivir, embora a diferença não tenha sido estatisticamente significativa, o que significa que pode ter sido devido ao acaso e não ao medicamento de Gilead.
Comparar o medicamento a um placebo deve fornecer respostas definitivas aos investigadores sobre o efeito do remdesivir na doença.
Embora o estudo tenha atingido seu objetivo principal, os dados promissores do NIAID são de uma análise provisória. Os resultados finais do estudo provavelmente não serão conhecidos até ao próximo mês.
O que sabemos sobre os resultados de um ensaio independente da Gilead
A Gilead anunciou que, em casos graves de Covid-19, cinco dias de tratamento com remdesivir foram tão bons quanto 10 dias de tratamento, o que leva a crer que se o medicamento for considerado benéfico, poderia diminuir o custo final do tratamento.
No estudo, a maioria dos pacientes que receberam o medicamento durante cinco dias apresentaram “melhorias” após 10 dias. Aqueles que receberam a terapia durante 10 dias mostraram melhorias após 11 dias.
Após duas semanas, mais de metade dos pacientes em ambos os grupos recebeu alta hospitalar. 64,5% dos que estiveram no grupo de tratamento de cinco dias e 53,8% no grupo de tratamento de 10 dias, recuperaram.
Os dados do estudo também sugerem que o início da terapia com remdesivir mais cedo após o desenvolvimento dos primeiros sintomas pode ajudar pacientes graves de Covid- a sair do hospital mais rapidamente do que aqueles que iniciaram a terapia mais tarde no decurso da doença.
O que sabemos sobre os resultados de um ensaio na China
Num estudo aleatorizado com adultos hospitalizados por Covid-19 grave em Wuhan, na China, ou seja, no epicentro original da pandemia, os 158 pacientes que receberam remdesivir não melhoraram mais rapidamente do que os 79 pacientes de um grupo controlo que receberam placebo. O medicamento também não conseguiu diminuir a quantidade de vírus no corpo ou o risco de morte.
No entanto, como o surto na China foi controlado, os investigadores tiveram problemas para inscrever pacientes suficientes nos seus ensaios de forma a produzir dados estatisticamente significativos. O mesmo é dizer que os resultados não são conclusivos.
Um especialista médico analisa os ensaios
"Nós temos estes três estudos publicados no mesmo dia e são todos diferentes", disse Holly Fernandez Lynch, professora assistente de Ética Médica da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, ela que não participou nos ensaios.
"Temos os resultados do NIAID a ir nma direção. Temos os resultados da China a ir noutra direção. E depois temos esse teste de cinco contra dez dias, que não sequer servir de desempate, porque não é controlado”, explica. E conclui: “Dos três, acho que os resultados do NIAID serão os mais confiáveis. Mas, por agora, é difícil dizer".
OMS se recusa a comentar uso do remdesivir contra a Covid-19
Uma importante autoridade da Organização Mundial da Saúde (OMS) recusou-se a comentar esta quarta-feira as notícias de que o remédio remdesivir, da Gilead Science, poderia ajudar a tratar a Covid-19, doença respiratória causada pelo novo coronavírus, explicando que mais dados são necessários.
“Eu não gostaria de fazer nenhum comentário específico sobre isso, porque não li essas publicações com detalhe”, disse Mike Ryan, chefe do programa de emergências da OMS, acrescentando que, às vezes, são necessárias várias publicações para determinar a eficácia de um medicamento.
“Há os testes aleatorizados de controlo que estão em andamento no Reino Unido e nos EUA – e que a OMS acompanha. O remdesivir é um dos medicamentos sob observação em muitos desses ensaios. Então, acho que muitos mais dados serão divulgados”, disse.
Mike Ryan acrescentou: “Mas esperamos que este medicamento e outros possam ser úteis no tratamento da Covid-19”.