Papa Francisco diz que a crise de refugiados da Ucrânia “exige respostas amplas e partilhadas”. No seu primeiro discurso em Malta, perante as autoridades e o corpo diplomático, Francisco lembrou que “não podem apenas alguns países arcar com o problema inteiro, nem podem países civis sancionar, para seu interesse, acordos obscuros com criminosos que escravizam pessoas”.
O Papa falou do “vento gelado da guerra, que só traz morte, destruição e ódio”, e sem referir o nome de Putin disse que é responsabilidade de “um poderoso qualquer, tristemente fechado em anacrónicas reivindicações de interesses nacionalistas”, que “provoca e fomenta conflitos”. “Precisamos de compaixão e cuidados, não de visões ideológicas e populismos, que se alimentam com palavras de ódio e não têm a peito a vida concreta do povo, da gente comum”, referiu.
Francisco diz que “é urgente devolver beleza ao rosto do homem, desfigurado pela guerra”, referiu como “é triste ver como o entusiasmo pela paz, surgido depois da II Guerra Mundial, se debilitou nas últimas décadas”, criticou “alguns poderosos que avançam por conta própria à procura de espaços e zonas de influência”, e condenou o facto de “muitas questões importantes, como a luta contra a fome e as desigualdades” terem sido “canceladas das principais agendas políticas”.
“Quanto precisamos duma «medida humana» face à agressividade infantil e destrutiva que nos ameaça, frente ao risco duma «guerra fria alargada» que pode sufocar a vida de gerações e povos inteiros!”, exclamou.
Sua Santidade voltou a agradecer “às Autoridades e à população pelo acolhimento” de refugiados, lembrando que “segundo a etimologia fenícia, Malta significa «porto seguro» e afirmou que “o Mediterrâneo precisa de corresponsabilidade europeia, para voltar a ser teatro de solidariedade e não a dianteira dum trágico naufrágio da civilização”. Depois Francisco insistiu na defesa do acolhimento porque “a respeito de quem atravessa o Mediterrâneo à procura de segurança, prevalecem o medo e «a narração da invasão». “Ajudemo-nos a não ver o migrante como uma ameaça não cedendo à tentação de construir pontes levadiças e erguer muros… não deixemos que a indiferença apague o sonho de vivermos juntos”, pediu o Papa.
Francisco insiste na ideia de que “a solução para as crises de cada um é ocupar-se das crises de todos” e pediu para que “voltemos a reunir-nos em conferências internacionais pela paz, onde seja central o tema do desarmamento, com o olhar fixo nas gerações vindouras! E os enormes fundos que continuam a ser destinados para armamentos sejam aplicados no desenvolvimento, na saúde e na nutrição”.
O Papa deixou ainda a sua preocupação com o aumento da corrupção, lembrando que “para garantir uma boa convivência social, não basta consolidar o sentido de pertença; é necessário também reforçar os alicerces da vida comum, que assenta sobre o direito e a legalidade”. Francisco entende que “a honestidade, a justiça, o sentido do dever e a transparência são pilares essenciais duma sociedade civilmente avançada”.
Sua Santidade aproveitou ainda para defender que “para garantir uma boa convivência social, não basta consolidar o sentido de pertença”, e defendeu “o empenho em eliminar a ilegalidade e a corrupção”. E pediu para que “sempre que se cultivem a legalidade e a transparência, que permitem erradicar a candonga e a criminalidade”.
Depois, Francisco disse conhecer “o empenho dos malteses em abraçar e proteger a vida”, e refeiu que “para um desenvolvimento saudável, é importante preservar a memória e tecer respeitosamente a harmonia entre as gerações, sem se deixar absorver por homogeneizações artificiais e colonizações ideológicas”. “Na base dum sólido crescimento, está a pessoa humana, o respeito pela vida e pela dignidade de todo o homem e mulher”, sublinhou Francisco para de seguida voltar a condenar a eutanásia. Disse o Papa: “Encorajo-vos a continuar a defender a vida desde o início até ao seu fim natural, mas também a preservá-la sempre de ser descartada e negligenciada”. Francisco pensava “especialmente na dignidade dos trabalhadores, dos idosos e dos doentes. E aos jovens, que correm o risco de desperdiçar o bem imenso que são, perseguindo miragens que deixam no íntimo tanto vazio”. “Protejamos a beleza da vida”, exortou.
Francisco conclui o seu discurso com uma evocação das crises no Médio Oriente, “o Líbano, a Síria, o Iémen e outros contextos dilacerados por problemas e violência”.