A médica oncologista Fátima Cardoso reiterou esta quinta-feira, à Renascença, a acusação de que o Infarmed “está a acelerar a morte de doentes jovens com cancro da mama avançado" e garantiu que não se deixa “amedrontar” por a estarem “a ameaçar com um processo disciplinar”.
A médica, que coordena a Unidade da Mama do Centro Clínico Champalimaud, reage às declarações de Rui Ivo, presidente do Infarmed, que disse à Renascença que se tratam de “acusações inusitadas” e que “merecem ser até averiguadas do ponto de vista disciplinar, porque elas não correspondem à verdade”.
“Continuo a afirmar que aquilo que digo é verdade e não me deixo amedrontar por me estarem a ameaçar com um processo disciplinar. Aquilo que disse é que o Infarmed está a demorar tempo demais a atualizar as aprovações para este grupo de medicamentos em relação à sua disponibilidade, sobretudo para mulheres mais jovens e homens”, sublinhou.
Em causa está a administração de um medicamento para o cancro da mama avançado, cujo uso não estará a ser alargado a mulheres jovens com aquela doença, algo que Ivo Rui rejeita, acrescentando que será brevemente comparticipado também para esse grupo.
Medicamento deveria estar disponível "há dois anos"
Fátima Cardoso sublinha que o fármaco em causa é o que está “melhor estudado nas mulheres pré-menopáusicas” e o que demonstrou “maiores benefícios”.
“Está disponível para mulheres pós-menopáusicas. Segundo as recomendações, há dois anos que deveria estar disponível para mulheres pós e pré-menopáusicas e para homens com cancro da mama avançado”, insistiu.
A especialista – que vai presidir à maior organização mundial de cancro de mama avançado, que vai transferir a sua sede para Lisboa – diz que as denúncias não são de agora e já têm sido feitas através do colégio da especialidade da Ordem dos Médicos. A repossta da Autoridade do Medicamento tem sido a de que “não existem desigualdades no acesso aos medicamentos em Portugal”, o que “chocou os oncologistas”, porque “não é verdade”.
“Todos vivemos diariamente com desigualdade acesso entre os sistemas público e privado e também agora entre utentes da ADSE. Não acho que isto seja responsabilidade exclusiva do Infarmed, até porque há muitas vezes atrasos nas autorizações a nível hospitalar, fazendo com que as desigualdades dentro do sistema público também existam”, acrescenta.
Fátima Cardoso esclarece que é “diferente a celeridade na administração num IPO” ou, por exemplo, num “hospital nos Açores ou na Madeira”, em que a demora, na prática, é de "quatro ou cinco meses” na disponibilização para o doente.