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O antigo líder da CGTP Manuel Carvalho da Silva considera que o motivo para a ocorrência de tantas greves, desde o início do ano, prende-se com "o prosseguimento de uma política, quer no setor da saúde, da educação, da justiça, da segurança, e outros, de desvalorização salarial e das profissões".
O sociólogo diz à Renascença que as pessoas têm sido "levadas ao desespero" por um caminho longo de "desrespeito, não atualização salariais e arrastamento de respostas a problemas de carreiras", que se acentuou "na primeira década do século e depois no período de aplicação do memorando da Troika".
"Portanto, continuando a não haver resposta às reivindicações que as pessoas fazem, e com razão, nós vamos ter a continuação do aumento deste clima de protesto", indica.
Por outro lado, Carvalho da Silva valoriza que, apesar de Portugal estar "num clima de greves", haver uma "cultura dos trabalhadores e dos seus sindicatos de um respeito profundíssimo pelos direitos de todos" e evitando os confrontos e danos públicos que se têm visto, por exemplo, em França.
Questionado sobre se a atitude do atual Governo perante as reinvidicações de muitos destes trabalhadores tem ajudado a prolongar as greves, por falta de resolução das reindivicações, o sindicalista acredita que "isso é inquestionável".
"Este Governo acentuou, sem sombra de dúvida, este problema, porque não deu resposta que já devia ter dado", critica.
O ex secretário-geral da CGTP destaca o caso dos professores e "o mau tratamento que foi dado por muitos Governos", referindo que se trata de "uma das loucuras deste país".
"Um país que maltrata os seus professores é um país que está a condenar o seu futuro. O que está em causa são os direitos das nossas crianças, no imediato e no longo prazo. Uma derrota dos professores significará que será imposta uma derrota aos portugueses no seu conjunto", refere.
Carvalho da Silva realça que as greves provocam "em primeiro lugar, um prejuízo aos grevistas, que perdem muito do seu salário quando fazem estas graves continuadas", o que é sinal "da tamanha injustiça que são confrontados".
O sociólogo afirma que a greve "é o último recurso, mas não significa nunca que seja o fim da linha". E que a greve "não visa eliminar possibilidade de negociações", mas ajudar a ganhar força para as reindivicações.
"Portanto, quando o Governo diz que faz o favor de estar a negociar com os trabalhadores, é bom dizer ao Governo que não. Isso só prova que a teimosia do Governo está para além daquilo que são os limites comuns", diz.
O antigo líder da CGTP rejeita, ainda, qualquer revisão da lei da greve, referindo que a legislação atual "é muito equilibrada".
"Quando uma sociedade, para resolver uma situação de não cumprimento do direito das pessoas, opta por eliminar estes direitos, como solução, muito mal está a sociedade. Espero que haja bom senso", acrescenta.