O presidente do Benfica, Rui Costa, explica que a estratégia de mercado passou por reduzir a folha salarial e, ao mesmo tempo, dar maior qualidade, competitividade e homogeneidade ao plantel.
"Primeiro objetivo era dar maior competitividade e qualidade, reduzindo a folha salarial. Este plantel é mais homogéneo do que o da época passada. Sabemos que o ano será longo e nem sempre será assim mas o plantel está mais forte para o presente e para o futuro, reduzimos a massa salarial em 21%, em 15 milhões de euros", revela o antigo jogador, em entrevista de balanço do mercado à BTV, exibida esta sexta-feira
O próximo passo é a renovação dos jovens da formação, com "redução final de cerca de 16%" da folha salarial, segundo o líder encarnado.
Rui Costa também esclarece a escolha de Roger Schmidt para comandar a equipa esta época. Inicialmente, o alemão "não era o treinador apontado", pois o Benfica não sabia se estaria livre do PSV Eindhoven.
"O que vemos em Roger Schmidt é uma enorme qualidade de jogo. Pretendemos para o clube um jogo atrativo e ofensivo. A partir do momento em que soubemos que poderia não renovar, fizemos uma pequena abordagem. Para nosso espanto, felizmente, houve um interesse enorme de Roger Schmidt também em poder treinar o Benfica. Já o conhecia do passado. À primeira conversa que tive com Roger Schmidt, fiquei claramente com a convicção de que iria ser o próximo treinador do Benfica. Estamos numa fase muito prematura, mas está toda a gente muito satisfeita e tenho a certeza de que ele também", assinala.
Bicada a FC Porto e Sporting
O Benfica apresentou prejuízo de 35 milhões de euros em 2021/22. Rui Costa frisa que, "estrategicamente, este ano era uma questão desportiva, sem arriscar questões no Fair-Play Financeiro", e atira farpas aos rivais.
"Até hoje não tivemos nenhum perdão bancário e temos de viver com o que temos. Foi exercício equilibrado. O que fizemos foi bem feito e criámos esse equilíbrio para o futuro. Podemos ver neste plantel quantas mais-valias temos para o futuro. Nunca falhámos com nada, nunca deixámos de cumprir. E temos plantel coeso com garantias para uma época longa. Estamos no início desta reestruturação, precisamos de tempo para equilibrar o que queremos no Benfica", sublinha.
Rui Costa diz que, para se olhar para a parte financeira, primeiro tem de se ter em conta o lado desportivo. O Benfica fez "muitas operações, uma reestruturação grande", e o presidente tem confiança no caminho que está a trilhar: "A estrada é muito longa, mas estamos no bom caminho."
"Temos Morato, António, Enzo, Florentino, Gonçalo Ramos, Henrique, Paulo Bernardo, vão ser mais-valias incríveis. Não olhar a números, não deixando de ser racional, mas sem estar obcecado", acrescenta.
Rui Costa explica, ainda, as entradas e saídas do Benfica este verão.
Contratações
Mihailo Ristic (custo zero, Montpellier): "É internacional sérvio e fez um ótimo campeonato em França. Precisávamos de um lateral-esquerdo."
John Brooks (custo zero, Wolfsburgo): "Com a lesâo do Morato nas últimas horas do mercado e a saída do Vertonghen, surgiu a necessidade de contratar mais um central, não ficando só com Otamendi e António numa posição que era delicada. Não poderíamos ficar só com dois centrais para afrontar este jogos e a fase de grupos da Liga dos Campeões. Em poucas horas criou-se uma solução para preencher esta posição, com um jogador que é do agrado do treinador e que, ao mesmo tempo, tem vasta experiência internacional e é uma ótima solução."
Julian Draxler (2,5 milhões de empréstimo, PSG): "Ainda queríamos mais um jogador para o trio da frente. E quando apareceu a oportunidade de trazer um jogador desta envergadura para o clube, hesitámos muito pouco. Não foi escondido a ninguém que é um ano de empréstimo, mas o que faltava avaliar eram as condições física do Draxler, que foram todas avaliadas. Vai precisar de poucos dias para se meter em forma e para poder fazer o que todos nós desejamos e ser o Draxler que toda a gente conhece e ser uma enorme mais-valia para o clube. Creio que, com o Draxler, e estando ele nas condições em que sabemos que está, e com a disposição que sabemos que tem, foi um fecho de mercado em grande."
Petar Musa (5,5 milhões, Boavista): "Destacou-se no campeonato português e sentimos necessidade de contratar mais um ponta de lança, um que não fosse uma estrela. Temos duas apostas claras no plantel naquela posição, que são o Gonçalo Ramos e o Henrique Araújo. Precisávamos de mais um que não viesse já rotulado como estrela. Ainda teríamos Roman na altura e ainda temos o Rodrigo Pinho, que, ao fim de uma lesão de um ano, está pronto para jogar e inclusive foi-nos pedido, e foi claramente aceite por nós, que ficasse no plantel. Acreditamos muito no Musa, acreditamos que vai ser um dos pontas de lança da Croácia no Mundial, mas, acima de tudo, que vai ser uma das figuras do Benfica. Ainda está tímido e isso é visível. Vamos dar um bocadinho de tempo ao Musa, mas estou convencido de que nos vai dar muitas alegrias."
Alexander Bah (8 milhões de euros, Slavia de Praga): "Foi um jogador que se destacou na República Checa, fez uma ótima Liga Conferência. Chamou a atenção de muitos importantes clubes europeus e conseguimos tirar vantagem da sua contratação."
João Victor (9,5 milhões, Corinthians): "Uma dos primeiros pedidos feitos por Roger Schmidt foi um central rápido. Foram postos à disposição do treinador quatro centrais com essas características e foi escolhido o João Victor. Infelizmente, ainda não teve condições para se poder apresentar, mas é um jogador de 23 anos e é mais uma mais-valia para o futuro."
David Neres (15,3 milhões, Shakhtar Donetsk): "Ocupa a posição do Everton e é um negócio muito límpido e benéfico para o clube. O valor de 15,3 milhões é alto, mas não é tão alto quanto o valor de mercado do Neres. O Shakhtar tinha uma dúvida para connosco de 15,3 milhões da compra do Pedrinho. Estaríamos nós em condições de fazer uma queixa à FIFA por um clube da Ucrânia não conseguir saldar uma dívida a tempo durante uma guerra? Atuámos com a maior correção possível. Houve clubes que tentaram explorar o Shakhtar. Nós fomos corretos na abordagem. Liquidámos uma dívida que eles tinham para connosco e ganhámos um ativo de enorme qualidade. É uma contratação que nos traz qualidade e que nem nos fez despender dinheiro."
Enzo Fernández (12 milhões, River Plate): "É a nossa aquisição mais cara se chegarmos aos patamares totais e acredito que vamos ter de pagar aquele valor [18 milhões de euros]. Seria mau sinal se não tivéssemos. Até porque estão incluídos prémios de campeão nacional e por aí fora. Mas acho que ninguém tem dúvidas porque é que insistimos tanto em Enzo Fernández, mesmo que ele tivesse de vir em janeiro. Felizmente para nós, ele acabou por vir na altura que tinha de vir, no início da temporada, e pôde fazer todos os jogos oficiais até agora. Mas, quando apontámos a este jogador, não apontámos só para dois meses. Apontámos para um futuro no Benfica e acho que já ninguém tem dúvidas do porquê de tanta insistência nossa. E foi por isso que apostei as fichas todas na contratação deste jogador, mesmo com esse 'handicap' que poderíamos vir a ter. Hoje em dia, é uma mais-valia enorme para o Benfica e acredito que todos os adeptos estejam contentes por ele estar cá."
Fredrik Aursnes (13 milhões, Feyenoord): "É um dos pedidos, não direi exigência, porque não houve exigências, de Roger Schmidt. Queríamos reforçar o plantel onde precisávamos e com jogadores que entendíamos, em conjunto, que podiam ser mais-valias para o clube. E o Fredrik foi um jogador que o treinador sempre nos pediu, com características para aquela posição. Foi um pedido extremo de Roger Schmidt e, depois de avaliado também por nós e pela nossa prospeção, onde saltou à vista a qualidade deste jogador, entendemos que seria mais uma boa aposta."
Saídas
Darwin Núñez (75 milhões de euros, Liverpool): "Estamos a falar de uma das transferências mais altas do mercado, e estamos a sair de situação pandémica que travou o mercado. Tem pouca discussão conseguir uma venda destas. Olhando para o mercado internacional, está mais que justificado, não havia nem condições para continuar. Era praticamente impossível manter o Darwin, quer pelas propostas, quer pelo que ele ia auferir."
Roman Yaremchuk (16 milhões, Club Brugge): "As pessoas não fazem a menor ideia do que este rapaz passou ao longo desta última época. Muda de país, sai da zona de conforto dele na Bélgica, vem para um clube desta dimensão, tem dificuldade de adaptação inicial também em relação à língua e por aí fora. Depois, inicia-se uma guerra no país dele, com os pais no meio da guerra. Nas primeiras duas ou três semanas de guerra, o Yaremchuk perdeu seis quilos. Apresentava-se nos treinos sempre com uma disposição tremenda, mas com uma dificuldade real de poder fazer aquilo que ele sabe fazer, condicionado por estes fatores. Depois, aparece uma situação na Bélgica, que é a sua zona de conforto. E entendemos ambos que era o melhor para as duas partes."
Everton (13,5 milhões, Flamengo): "Em relação ao Everton, era indiscutível o valor do jogador, mas, à semelhança do Yaremchuk, só discutível a adaptação. Everton não teve a adaptação esperada. É um excelente jogador e no Brasil vai provar isso. A saída de Everton para a entrada de Neres foi uma mais-valia, para nós e para o Everton."
Empréstimo de Haris Seferovic (1 milhão, Galatasaray): "Perdeu espaço, às vezes tem a ver com rendimento alto de outros: Darwin no ano passado e Gonçalo Ramos este ano."
Empréstimo de Julian Weigl (Borussia Monchengladbach): "Era um titular indiscutível das últimas épocas. Não chegou uma proposta para o Weigl sair que considerássemos oportuna. O próprio já admitiu que estava a perder espaço no plantel face ao modelo de jogo de Roger Schmidt e face à dinâmica que a equipa estava e está a ter. Manter um jogador que por duas épocas consecutivas foi um dos mais influentes da equipa não era nem oportuno para ele nem para o Benfica. Por isso o empréstimo a um país que é o seu e onde se possa rentabilizar e, acima de tudo, poder lutar, ainda, por uma vaga para o Mundial. Não deixa de ser um jogador que é internacional alemão. Consideramos que é um excelente jogador, mas, acima de tudo, temos de pensar até que ponto é benéfico ter o Weigl com pouca utilização na equipa, valendo o que ele vale, quer desportivamente, quer financeiramente. Daí o empréstimo para a Alemanha, para um clube que o desejou bastante."
Empréstimo de Souliho Meité (Cremonese): "Podemos falhar a contratação de jogadores, mas o que não é permitido no Benfica é falhar o critério. Em relação ao Meité, não falhámos o critério, falhámos a adaptação do jogador. Porque é um jogador que, em Itália, quer no Milan, quer no Torino, teve sempre prestações altíssimas. Precisávamos de um médio robusto na época passada e encontrámos em Meité essa solução. Apesar de todo o empenho, não se conseguiu adaptar ao nosso futebol."
Empréstimos de Conti, Francisco Ferro e Tiago Dantas: "Conti estava emprestado até final do ano. Ferro já estava emprestado. Dantas estava no Tondela e rumou ao PAOK, acreditamos que possa valorizar e, quem sabe, voltar a casa."
Adel Taarabt (rescisão): "Estava no último ano de contrato. No ano passado foi titular. Por via das escolhas do novo treinador, acabou por não encaixar e procurámos solução para prosseguir a carreira. Nunca vi no meio alguém que tivesse uma transformação tão positiva, parecia acabado e ressurgiu para o jogador que ele realmente é."
Jan Vertonghen (rescisão): "Foi dos melhores profissionais que conheci, um senhor. Jogador de prestígio como ele, com ambição de ir ao Mundial, não seria para ele solução arriscar e ficar sem jogar, nem para nós cortar-lhe as pernas."
Pizzi (rescisão): "Foi emprestado em janeiro, é um jogador que merece o maior respeito. Tem um historial no clube diferente, com muitos títulos. Pese embora tenha sido atacado de forma injusta, sempre foi respeitado dentro de casa por toda a gente. Foi à procura dos últimos anos da carreira dele e o Benfica respeitou isso."