O bispo do Porto, D. Manuel Linda, considera que basta “um único caso” de abuso sexual na Igreja, para que a situação já seja “imensamente preocupante”.
À margem da visita à ala pediátrica do Hospital de São João, no Porto, apesar de desconhecer os contornos do caso divulgado pela diocese de Vila Real e Patriarcado de Lisboa, D. Manuel Linda foi perentório: “bastava que fosse um único caso para ser imensamente preocupante”.
O prelado alude ao longo período temporal, entre as eventuais ocorrências e a denúncia agora efetuada, lembrando que “uma coisa é uma queixa e outra coisa é uma confirmação de investigação”, destacando, por outro lado, a importância do trabalho que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica.
O caso tem mais de três décadas e foi reportado à Igreja de Vila Real pela Comissão de Proteção de Menores do Patriarcado de Lisboa, presidida por D. Américo Aguiar, bispo auxiliar desta diocese.
Em resposta à denúncia de eventuais abusos de menores, a diocese transmontana decidiu afastar o sacerdote, de 65 anos, de toda a atividade pastoral, clarificando que “o caso envolverá o padre Manuel Machado, ordenado em Lisboa em 1985 e incardinado na diocese de Vila Real em 2011".
O comunicado da diocese confirma que "recebeu do coordenador da Comissão para a Proteção de Menores da Diocese de Lisboa" a informação da existência dessa denúncia que terá ocorrido "há alguns anos naquela diocese".
Dando cumprimento às orientações em vigor, vai ser "iniciada uma investigação prévia e feita a comunicação às autoridades judiciais competentes".
A mesma nota sublinha que a Comissão de Proteção de Menores do Patriarcado de Lisboa vai continuar a desenvolver o seu trabalho, “mantendo uma total disponibilidade para colaborar com as autoridades competentes e tendo sempre como prioridade o apuramento da verdade e o acompanhamento das vítimas”.
Comissão independente portadora de testemunhos “avassaladores”
Em entrevista à Renascença, Pedro Strecht, o coordenador da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, disse que nos últimos 15 dias foram recebidas mais de uma centena de denuncias de abusos sexuais no seio da Igreja.
O responsável alerta, contudo, que nem todas serão verdadeiras e que é preciso investigar até ao fim.
“Queremos escutar as pessoas, muito mais do que apresentar números de grande impacto”, realça, Pedro Strecht.
A comissão, em atividade há menos de um mês, está a investigar os casos de abusos nos últimos 70 anos e já é portadora de testemunhos, com várias décadas, de “uma força e dor emocional francamente avassaladores”, lamenta o pedopsiquiatra.
Nesta entrevista, o especialista adianta que o método de investigação utilizado pela comissão, cruza diferentes fontes de informação, sendo que “os testemunhos falsos que apareceram têm sido extremamente fáceis de detetar”.
Até agora, a pessoa com mais idade tem cerca de 85 anos e relata factos ocorridos, eventualmente, há cerca de 70 anos. Mas há também adultos, hoje com 50 anos e que revelam ter sofrido abusos entre os 8 e os 10 anos.