“O avô é que é o meu melhor amigo”
26-07-2021 - 08:10
 • Liliana Carona

As visitas dos emigrantes ficaram condicionadas pela pandemia. Em S. Martinho, concelho de Seia, os avós Ramos passaram a ver os netos apenas uma vez por ano. Quando chegam do Luxemburgo têm quatro semanas para matar as saudades de um ano inteiro.

“Já aí vem?”, pergunta ansioso Pedro Ramos, 67 anos, que à entrada de casa não esconde a ansiedade por rever o neto que se despediu dele a última vez em agosto do ano passado.

“Têm de o aproveitar para tropa especializada, que este é terrível”, sorri olhando o neto mais novo, Rafael Ramos, sete anos.

“Qual o teu melhor amigo?” A pergunta é colocada pelo avô. “É o avô, porque anda comigo de mota, dorme comigo, leva-me a ver as ovelhas, os cãezinhos”, explica Rafael, interrompido pelo pai, Leandro Ramos, 42 anos. “Então o teu melhor não amigo não é o papá? Eu como pai passei para segundo plano”.

“Fui buscá-los ao Porto, vêm do Luxemburgo. Ficaram doidos quando nos viram, o avô é o melhor amigo, faço-lhe todas as vontades”, assume Pedro Ramos, admitindo que “os netos trazem mais alegrias que os filhos.”

E recorda que “na altura que criaram os filhos, não tinham vagar para dar carinho, de os aturar, agora estamos reformados, é um gosto, é importantíssimo ver os netos, quando os vi à saída do aeroporto ficámos encantados”, conta.

Dinis Ramos, 11 anos, o neto mais velho, também sabe porque é que o avô é o seu melhor amigo. “Ele faz muitas doidices. Ele faz coisas fixes”, revela. Até 20 de agosto, Rafael e o irmão saem pela aldeia na zundap. “Logo de manhã levantaram-se e pediram para ir dar uma volta de mota com o avô e já combinaram ir à missa comigo”, diz o avô Pedro.

A avó Fernanda Ramos, 67 anos, entrelaça os dedos nas mãos dos netos.

“Anda cá meu filho, a avó já foi bonita e agora já está feia”, declara Fernanda, imediatamente corrigida pelo neto mais velho. “Ainda estás bonita”.

A avó afaga os netos e conclui: “são a minha alegria, vemo-nos todos os domingos por WhatsApp, mas quando se vão embora fico triste. Eles são a minha melhor consolação”, defende.

Leandro faz questão de os filhos não falharem um dia dos avós. “Eles com a pandemia, estão todo o ano sem os ver, os meus pais deixaram de ir ao Luxemburgo, mas nós vimos sempre de férias nesta altura”, garante Leandro.

O consolo nos braços dos avós que brindam ao regresso dos netos. “Que te faça bom proveito meu amor”, observa o avô Pedro Ramos, enquanto o neto Rafael sorve a seven up de um só golo.