O Papa alertou esta quarta-feira para os perigos e consequências de uma possível guerra atómica.
“A nossa imaginação parece cada vez mais centrada na representação de uma catástrofe final que nos extinguirá, o que acontece como uma eventual guerra atómica!”, disse Francisco na tradicional audiência geral, acrescentando, logo de seguida e de improviso, que “no dia seguinte, se ainda houver dias e seres humanos, teremos de começar do zero. Destruir tudo para começar do zero”.
Dando continuidade ao novo ciclo de catequese sobre a velhice, o Papa centrou a sua reflexão, sobre o tema “A velhice, um recurso para a juventude despreocupada”, alicerçada no relato bíblico do Dilúvio.
“Parece que o símbolo do dilúvio está a ganhar terreno no nosso inconsciente”, disse Francisco, salientando que “a atual pandemia coloca um risco considerável na nossa representação despreocupada das coisas que importam, pela vida e pelo seu destino”.
“O relato bíblico - com a linguagem simbólica da época em que foi escrito diz-nos uma coisa impressionante: Deus estava tão amargurado com a maldade generalizada dos homens, que se tornou um modo de vida normal, que achou que estava errado em criá-los e decidiu eliminá-los. Uma solução radical. Pode até ter um toque paradoxal de misericórdia. Sem mais humanos, sem mais história, sem mais julgamento, sem mais condenação. E muitas vítimas predestinadas de corrupção, violência, injustiça seriam poupadas para sempre”, explicou o Santo Padre.
Depois Francisco questionou os presentes na audiência: “Não nos acontece às vezes também - dominados por um sentimento de impotência contra o mal ou desmoralizados pelos ‘profetas da perdição’ - pensar que era melhor não ter nascido? Devemos dar crédito a certas teorias recentes, que denunciam a espécie humana como um dano evolutivo à vida em nosso planeta? Todos negativos?”. E respondeu: “Não”.
Francisco aponta a “sabedoria dos velhos” como antídoto
Segundo Francisco, “estamos sob pressão, expostos a tensões opostas que nos deixam confusos”.
“O ser humano, quando se limita a gozar a vida, perde até a perceção da corrupção, que mortifica a sua dignidade e envenena seu sentido”, alertou o Papa.
“Quando se perde a perceção da corrupção, a corrupção torna-se uma coisa normal”, explicou, salientando que “enquanto a vida normal puder ser preenchida com bem-estar, não queremos pensar no que a torna vazia de justiça e amor”.
“Estou bem, não tenho que pensar em problemas, guerras, miséria humana, tanta pobreza e tanta maldade. Estou bem, não me importo com os outros. É um pensamento inconsciente que nos leva a experimentar um estado de corrupção”, denunciou, alertando que a corrupção pode-se tornar normal, “pode-se respirar o ar da corrupção como se respira oxigênio”.
O Papa apontou, depois, a “sabedoria dos velhos” como o antídoto para a corrupção.
“As novas gerações esperam de nós velhos, uma palavra que é profecia, que abre as portas para novas perspetivas neste mundo despreocupado”, disse.
De acordo com o Santo Padre, é a “leveza que visa apenas o autocuidado” que “abre a porta à corrupção” na medida em que “suaviza as nossas defesas, obscurece a nossa consciência e nos torna – mesmo involuntariamente – cúmplices”.
“A corrupção não anda sozinha, tem sempre cúmplices, espalha-se, espalha-se”, advertiu, defendendo que “a velhice está na posição certa para entender o engano da normalização de uma vida obcecada pelo gozo e vazia de interioridade”.
“Vida sem pensamento, sem sacrifício, sem interioridade, sem beleza, sem verdade, sem justiça, sem amor; tudo isso é corrupção”, disse.
“Nós, anciãos, devemos ser profetas contra a corrupção, como Noé”, apontou.
“Vamos em frente: o mundo precisa de jovens fortes para seguir em frente e de velhos sábios: peçamos ao Senhor a graça da sabedoria”, conclui.