Nem o primeiro-ministro, nem qualquer outro dirigente político português, foi convidado para participar na cerimónia que assinala os 20 anos da transferência para a China da soberania sobre Macau. Amanhã voltarei ao assunto.
Mas A. Costa está presente, hoje, em Nova Deli, no segundo encontro do Comité Gandhi, o que é de aplaudir. Primeiro, porque as relações políticas entre Portugal e a Índia são boas e devem ser cultivadas. Depois, porque o que os portugueses deixaram em Goa e noutros territórios daquele país um património material e imaterial que importa preservar. Aliás, A. Costa tem familiares em Goa, o que é um trunfo para o diálogo com as autoridades indianas.
Infelizmente, a Índia está a atravessar uma fase politicamente preocupante. O primeiro-ministro Narendra Modi é um nacionalista hindu, hostil aos muçulmanos. Quando a Grã-Bretanha deixou de ser a potência colonial, em 1947, o confronto entre hindus e muçulmanos levou a criar duas nações, a Índia e o Paquistão. Mesmo assim, nessa altura morreu muita gente.
O Paquistão ficou então com a maioria dos muçulmanos, mas muitos mantiveram-se na Índia – serão agora cerca de 80 milhões. Ora desde que o partido de Modi (o Bharatiya Janata) há cinco anos voltou ao poder, a repressão sobre os muçulmanos intensificou-se.
A última manifestação da hostilidade do poder político indiano aos muçulmanos é uma lei que permite o acesso à cidadania indiana a refugiados, incluindo sikhs, budistas e cristãos, mas a recusa a muçulmanos, judeus e ateus. O populismo autoritário e religioso de Modi contradiz a tradição democrática da Índia.
A separação entre Estado e religião é um pilar essencial da democracia, que muitas religiões - como é o caso da católica – consideram que também beneficia a sua autenticidade. Seria bom que a mais populosa democracia do mundo, a Índia, não pusesse em causa este ponto essencial.