Há ano e meio que Marina ficou sem abrigo. É uma das utentes dos apartamentos partilhados da Cáritas Arquidiocesana de Braga, um projeto inaugurado em janeiro pela instituição da Igreja destinado à população sem abrigo.
A bracarense de 58 anos divide casa com mais três utentes. Tem um teto, mas falta-lhe ocupação que lhe garanta um rendimento. “Já não peço um emprego, mas um trabalho”, pede Marina que, da sua experiência, reconhece que “muitas das pessoas se habituam à rua e depois já não querem sair”, conta.
João Fonseca, trabalhador da construção civil, procura uma casa que possa comportar financeiramente. O objetivo é encontrar um espaço para si e para o seu companheiro Francisco, também, em situação de sem abrigo. “As casas estão todas ocupadas com os estrangeiros. Nós, que andamos por aqui, não temos hipótese de arranjar uma casa. Só por milagre”, lamenta.
Apesar de insuficientes, as respostas à população sem abrigo têm vindo a crescer nos últimos tempos em Braga, reconhece Estela Portela, da Cáritas Arquidiocesana. “Temos efetivamente mais respostas, muito, através das diferentes instituições. Embora não seja a resposta ideal, é a possível”, conta a psicóloga que se manifesta apreensiva em relação aos tempos que se avizinham.” Com esta crise social que já vamos sentindo e, com a falta de resposta de habitação, acredito que o número de sem abrigo vai aumentar”, admite a responsável.
E os pedidos de ajuda que chegam à Caritas de Braga já se fazem sentir “a todos os níveis”, revela. Segundo Estela Portela são vários os casos de pessoas que “ficam na mão” devido ao aumento das rendas, ou, porque os proprietários decidem vender os imóveis.
“Ainda esta semana recebemos uma situação nesse sentido. Um senhor, que estava há 20 anos num apartamento, teve de sair porque o senhorio quis vender. Felizmente encontramos solução”, conta.
Uma “problemática” em torno da habitação que é “sentida pelas diferentes Cáritas do país”, garante a psicóloga. “Há mesmo cidades sem resposta”, remata.