Apesar da contestação de alguns países, a União Europeia aceitou abrir uma exceção para Portugal e Espanha e os dois países vão poder impor um preço máximo de referência para o gás e baixar o preço da eletricidade.
Para o comentador das Três d’Manhã “são boas notícias no curto prazo” na medida em que Portugal vai “poder artificialmente, e por decreto, diria eu, limitar o preço de um bem que tem o mercado livre”.
“Se fosse esta solução, nós tínhamos o problema da inflação resolvido em todo o lado, porque bastava um decreto e acabava-se o problema”, sinaliza, advertindo para as consequências que pode ter esta medida.
“Em primeiro lugar, se nós limitarmos o preço, e por muito tempo, nós vamos ter um problema grave, é que há um desincentivo aos produtores e, portanto, de alguma forma, o que vai acontecer é que eles vão, mais cedo ou mais tarde, deixar de produzir, porque não têm interesse económico nenhum e são empresas privadas que têm que, naturalmente, pagar os salários aos seus funcionários, os custos em geral, nomeadamente o da energia, à partida e, portanto, definir preços artificialmente, acaba por ser um mau resultado ou ter um mau resultado no longo prazo”, alerta.
No entanto, de acordo com o comentador, a medida “pode entender-se a muito curto prazo, especialmente porque a ligação entre a Península Ibérica e o centro da Europa não tem a dimensão e, portanto, a fluidez que deveria ter, infelizmente; e, por isso, pode-se compreender um bocadinho este tipo de medidas. Mas, como digo, é um mau remédio para uma solução definitiva”.
Nesta altura ainda não é possível aferir o que vai significar no bolso dos consumidores nem em o que pode representar em termos da redução de preços. Tudo vai depender do preço máximo que vai ser fixado.
“Eu diria que, se as empresas de distribuição fixaram preços antecipadamente, porque os negociaram antecipadamente para distribuição, agora vão manter a margem e, portanto, não há problemas para já. O impacto acontecerá no futuro, porque a forma como é estabelecido o preço é uma forma marginalista, isto é, está-se a usar o preço mais recente para reconhecer como o preço a que a atual energia é servida”, diz.
João Duque acrescenta ainda que “pode não coincidir o facto de o preço de agora ser o preço a que a empresa de distribuição comprou, mas vai agora fixar o preço daquilo que vai fornecer no futuro e, portanto, o problema da rentabilidade dessas empresas e do incentivo económico vai colocar-se no futuro. Nessa altura vamos ver o que é que fazem os governos. Nessa altura vão financiar as empresas, compensá-las com algum subsídio? Vamos ver”.