O inspetor da Polícia Judiciária (PJ) José Amador comparou esta terça-feira a informação nos discos de Rui Pinto, criador da plataforma Football Leaks, a uma “caixa de Pandora”, contendo mais de 150 caixas de correio eletrónico.
Entre essas caixas de correio, estavam presentes os endereços de altos nomes da magistratura, como a ex-procuradora-geral Joana Marques Vidal, mas também de Maria José Morgado, Amadeu Correia e Adriano Cunha, sublinhou a testemunha, na quinta sessão do julgamento que decorre no Tribunal Central Criminal de Lisboa.
“Estão aqui emails de altos cargos da magistratura, que permitiam explicar alguns factos que estão em investigação noutros inquéritos”, realçou o inspetor, sublinhando: “Isto era um bocadinho a ‘caixa de Pandora’”.
José Amador contou que, entre os 12 discos apreendidos a Rui Pinto, nove estavam encriptados, num total de 23 ‘terabytes’ de informação, nos quais os discos RP3 e RP9 se afirmaram como relevantes.
“Estamos a falar de 23 ‘terabytes’ de informação. É qualquer coisa de fantástico, um volume muito grande de informação. Estamos a falar dos 12 discos, a capacidade flutuava entre um e quatro ‘terabytes’. Para análise, relevaram essencialmente dois discos, o RP3 e o RP9, porque tinham os sistemas de ficheiros abertos e possuíam informação relevante”, explicou.
Se o disco RP3 – que continha igualmente documentação relacionada com a investigação sobre o caso de Tancos -, “tem tanto que se lhe diga que merecerá uma abordagem isolada”, o RP9 apresentava a particularidade de ter “a esmagadora maioria dos ficheiros apagados”, tendo sido detetados em perícias forenses.
“Quando se utilizam ferramentas forenses, dá para conseguir verificar a presença de outros ficheiros”, frisou, acrescentando: “Todos os ficheiros são recuperáveis. Qualquer ferramenta forense consegue detetar a presença dos ficheiros e dos metadados”.
Já o computador apreendido a Rui Pinto acabou por “não se revelar de particular interesse”, com José Amador a considerar que não era a máquina “que fazia arrancar o RP3”, numa altura em que o Luanda Leaks, “à data, não existia”.
A juíza Margarida Alves, que lidera o coletivo de juízes, voltou a confrontar a testemunha com a possibilidade de manipulação, por parte das autoridades francesas e húngaras, dos ficheiros presentes nos discos apreendidos, mas o inspetor reiterou não ter existido.
“O resumo digital é igual. O procedimento que tivemos de fazer foi implicar o investimento num adaptador que a PJ não tinha. O relatório começa por anotar os dados, o utilizador e o número de série da máquina. Tudo fica devidamente registado”, explicou, denotando a existência de três datas nos metadados dos ficheiros – de criação, de modificação e de último acesso – e que em nenhum deles foi verificado a existência de uma data posterior à apreensão.
A inquirição ao inspetor José Amador, que teve início na quarta sessão, prossegue na quarta-feira, pelas 09:30.
Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, por 14 de violação de correspondência e por seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto, então representante de Rui Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e o seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.