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Por enquanto, os países têm diante de si três textos sobre esta questão: um apresentado pela Rússia ao Conselho de Segurança e dois que devem ser examinados pela Assembleia Geral, que na quarta-feira retomará a sua sessão especial de emergência sobre a Ucrânia.
A Assembleia, que em 2 de março já aprovou com ampla maioria uma resolução para condenar a agressão russa contra a sua vizinha Ucrânia, vai agora considerar um documento promovido pela França e pelo México, que pede à Rússia o cessar imediato das hostilidades, critica o ataque de cidades como Mariupol e exige que a população civil seja protegida, entre outros pontos.
Embora apoiado por muitos países — incluindo a própria Ucrânia, Estados Unidos da América e membros da União Europeia — o projeto não convence outras nações, especialmente de África, que preferem um texto que evite apontar o dedo à Rússia e se concentre exclusivamente em princípios humanitários.
Com base nisso, a África do Sul propôs uma resolução alternativa, mas as potências ocidentais opõem-se à aprovação de um texto que não afirme claramente que a origem da crise humanitária é a invasão russa.
Questionada sobre qual dos três rascunhos humanitários em cima da mesa apoiará, a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, disse hoje que ficará do lado do texto redigido pela França e México, com apoio da Ucrânia.
“Eu apoiarei o projeto que os ucranianos, as delegações francesa e mexicana, e o resto de nós, colocaremos sobre a mesa. É uma forte resolução humanitária. Ela identifica a causa da crise humanitária. A Rússia é a causa da crise humanitária. As outras duas resoluções, uma da Rússia e outra da África do Sul, não identificam a causa da crise”, salientou.
“Isso seria como o incendiário a chamar os vizinhos para ajudá-lo a apagar o incêndio que ele próprio começou na casa de um vizinho. A Rússia é o agressor aqui, e é absolutamente inconcebível que a Rússia pense que pode apresentar uma resolução humanitária. O que a Rússia precisa fazer é parar de matar ucranianos”, apelou a diplomata.
Linda Thomas-Greenfield prevê ainda que a resolução a ser apresentada pela Rússia ao Conselho de Segurança não obterá apoio.
“Estamos a trabalhar com membros da Assembleia Geral e com os sul-africanos para tentar resolver quaisquer preocupações que possam ter e abordar essas preocupações na resolução que a Ucrânia apoia. Então, ainda esperamos obter os mesmos números que isolaram a Rússia da última vez”, admitiu a norte-americana.
Várias fontes diplomáticas garantem que os contactos continuam para tratar de chegar a uma fórmula aceitável para todos e que possa reunir o maior número de votos possíveis, em linha com a resolução anterior da Assembleia, que reuniu 141 votos a favor e apenas cinco contra.
Para já, está confirmado que o debate na Assembleia Geral terá início na quarta-feira, mas não está definido quando o texto ou os textos serão votados, algo que poderá acontecer ainda esta semana.
Através do seu porta-voz, o secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou hoje os Estados-membros a “falarem a uma só voz” para apoiar o trabalho humanitário que a organização está a fazer no terreno.
A questão da crise humanitária chegou à Assembleia Geral das Nações Unidas depois que a França e o México não conseguiram convencer a Rússia a aprovar seu texto no Conselho de Segurança, cujas decisões têm mais peso, mas onde Moscovo tem poder de veto.
Em resposta, a delegação russa apresentou o seu próprio projeto ao Conselho, que não faz menção à guerra ou ao papel da Rússia nela, e pede um cessar-fogo negociado e respeito aos princípios humanitários.
A Rússia lançou, a 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia, depois de meses a concentrar militares e armamento na fronteira com a justificação de estar a preparar exercícios.
A guerra já matou pelo menos quase mil civis e feriu cerca de 1.500, incluindo mais de 170 crianças, de acordo com as Nações Unidas.
Segundo a ONU, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.