Segundo o Irão, que prontamente reivindicou o ataque, "dezenas de mísseis" iranianos foram lançados (as agências internacionais estão a dar conta de pelo menos 12 disparos) esta terça-feira à noite, 1h20 da manhã em Bagdad – precisamente a hora a que general iraniano Qassem Soleimani foi assasinado –, contra pelo menos duas bases militares no Iraque onde se encontram destacados militares norte-americanos e da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos.
Tratam-se das bases de al-Asad (que no final de 2018 foi visitada de surpresa por Donald Trump), na província de Anbar, no noroeste do Iraque, e a base de Erbil, a norte. Não há, por ora, informação sobre a existência ou não de vítimas. Fonte do Pentágono afirma apenas que se encontra a "trabalhar no balanço inicial da batalha", promentendo desencadear "todas as medidas necessárias para proteger e defender os militares norte-americanos e os seus parceiros e aliados na região".
O primeiro anúncio do bombardeamento é da televisão estatal iraniana e foi já confirmado pelo departamento de Defesa dos EUA, bem como pela própria Casa Branca – que deu apenas conta, através da secretária de imprensa, que o Presidente norte-americano Donald Trump foi informado do ataque e se encontra "a monitorizar a situação de perto" juntamente com a sua equipa de segurança nacional (o secretário de Estado Mike Pompeo, o secretário da Defesa Mike Esper e o vice-Presidente dos EUA Mike Pence participaram nesta reunião de emergência com Trump).
Horas depois, no Twitter, e prometendo falar ao país na manhã de quarta-feira, Donald Trump reagiria ao ataque iraniano. "Está tudo bem! O Irão lançou mísseis contra duas bases militares no Iraque. Estamos neste momento a avaliar se há baixas ou estragos. Até agora, tudo bem! Temos, de longe, o exército mais poderoso e bem equipado do mundo!", garantiu o Presidente norte-americano.
A agência estatal de notícias estatal do Irão, ISNA, avançou, sem surpresa, que o ataque iraniano contra as bases militares norte-americanas é uma retaliação à morte de Soleimani. “Esta manhã, corajosos combatentes da Força Aérea do IRGC [Guarda Revolucionária do Irão] lançaram uma operação bem-sucedida chamada Operação Mártir Soleimani, com o código ‘Oh Zahra’, ao disparar dezenas de mísseis terra-terra na base das forças terroristas e invasoras dos EUA”, adiantou a agência estatal.
Através da plataforma Telegram, a Guarda Revolucionária do Irão garantiu que, caso as tropas norte-americanas resolvam retaliar, “desta vez vamos responder na América”. Já na televisão estatal iraniana, a Guarda Revolucionária garantiu: “Se responderam, esperem ataques maiores. Isto não é uma ameaça, é um aviso”.
O Irão promete igualmente que, em resposta a qualquer futuro ataque militar dos Estados Unidos contra Teerão, o movimento xiita libanês Hezbollah vai bombardear o Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e a cidade israelita de Haifa.
O líder espiritual iraniano, o ayatollah Ali Khamenei, citado pela agência noticiosa (com ligações ao Governo iraniano) Fars, ameaçou esta quarta-feira os Estados Unidos, prometendo – na linha do que já o havia feito a Guarda Revolucionária – que o Irão vai retaliar em força se for atacado pelos Estados Unidos. “Disse-o anteriormente [durante a presidência de Barack Obama], o tempo do toca-e-foge acabou. Se nos atacarem, vamos atacar-vos [EUA] de volta”, referiu Khamenei, num vídeo não datado.
Por sua vez, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, garantiu, através da rede social Twitter, que o Irão “não procura uma escalada [da violência] ou começar uma guerra”, mas garante que Teerão “vai defender-se de qualquer agressão [norte-americana]”.
Javad Zarif escudou-se ainda no artigo 51.º da Carta das Nações Unidas, que prevê a legítima defesa, individual ou coletiva, no caso de ocorrer um ataque armado contra um membro da organização. Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, o país sofreu “ataques cobardes contra cidadãos e altos funcionários” do regime.
O general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu na sexta-feira num ataque aéreo ordenado por Donald Trump contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdad. No mesmo ataque morreu também o número dois da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], além de outras oito pessoas.
O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e apenas terminou quando Trump anunciou o envio de mais soldados para o Médio Oriente.