Faz tempo que o país se encontra numa posição de debilidade económica, razão do crescente e continuado endividamento cuja taxa, face ao que produzimos, atingiu níveis completamente desproporcionados. Andamos a gastar mais do que geramos.
É relativamente simples perceber a insustentabilidade da situação. Se o mesmo se passasse com uma empresa ou família, teríamos, em uníssono, o descarte social, político, legal e naturalmente a consequente obrigatoriedade legal e ética de rápida resolução ou falência. É também simples perceber a tranquilidade e inabilidade com que os sucessivos governos têm lidado com esta situação.
A criação de riqueza, em volume que nos permita pagar a divida e simultaneamente criar as condições para melhores condições de vida em Portugal, é o maior e mais importante desafio da nação que, surpreendentemente, não encontra nem propostas nem debate na larga comunidade de candidatos ao poder político. As condicionantes que assolam o mundo desde 2020 e os tempos difíceis que as economias mundiais, de forma sistémica, atravessam, vieram intensificar a visibilidade da debilidade portuguesa. É obvio que Portugal terá de mudar de vida, e quanto mais cedo melhor.
As crises e dificuldades quando devidamente consciencializadas e devidamente integradas numa estrutura de raciocínio responsável constituem elementos de estímulo ao pensamento e dinâmica de resolução.
Em Portugal, o diagnóstico já foi por diversas vezes realizado e quanto às causas há uma aparente concordância. Em matéria de soluções estamos infelizmente mais pobres. Os agentes políticos apresentam uma generalizada falta de ideias e raciocínios estratégicos. As condicionantes de acesso ao poder dentro dos aparelhos partidários exigem competências que em quase nada estão relacionadas com a capacidade meritocrática necessária à profunda transformação do país que exige profundas transformações no que diz respeito:
• ao sistema político;
• à presença e peso do estado na economia;
• à fiscalidade;
• à relação entre capital e trabalhadores;
• à estratégia de desenvolvimento da economia marítima;
• à estratégia de desenvolvimento da economia aeroespacial;
• ao funcionamento da justiça, e
• à descentralização do poder do estado.
Parece evidente que os ciclos económicos mundiais que se avizinham, com uma expectável maior intervenção do desenvolvimento científico e tecnológico, obrigam a uma clara orientação para a exploração de ativos, associados à rápida evolução na estruturação das relações económicas e sociais.
Portugal vive ainda em matérias de estruturação social agarrado aos critérios que ditaram a rutura com a ditadura que vigorou durante grande parte do século XX, cuja capacidade é contudo no mínimo duvidosa face aos desafios que o bem-estar das pessoas em sociedade económica contemporânea exigem. Vivemos hoje numa ditadura fiscal sobre uma economia pobre e fragilizada sem incentivos à produtividade e bem fazer.
Portugal tem vindo a testemunhar o atraso relativo da sua economia, da sua competitividade e do seu nível de desenvolvimento e observamos um agravamento teimoso do modelo de acesso ao poder, razão pela qual os tempos que se avizinham, em termos de ciclo económico pós pandemia, não podem constituir motivo de regozijo.
Enquanto as necessárias reformas não forem devidamente implementadas, Portugal não tem, lamentavelmente, qualquer hipótese de inverter o ciclo em que se encontra.
Eduardo Baptista Correia, CEO do Taguspark e professor da Escola de Gestão do ISCTE