A rede de assistência técnica para "perdas e danos" aos países em desenvolvimento será gerida pelas agências das Nações Unidas para projetos e redução de riscos, uma cooperação que assegura os melhores projetos para o financiamento.
Quem o diz é Jorge Moreira da Silva, diretor executivo da UNOPS, agência das Nações Unidas especializada em projetos de infraestrutura, depois de, no domingo, ter sido consensualizada a operacionalização da rede de Santiago.
"Isto é muito importante porque, para que o fundo possa funcionar de forma plena, tem de se originar projetos que cumpram os melhores requisitos, que sejam suficientemente robustos para terem financiamento. Essa é a função desta rede", disse Jorge Moreira da Silva, em entrevista à agência Lusa.
Ao quarto dia da 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), a decorrer no Dubai, Emirados Árabes Unidos, esta foi a segunda decisão referente a "perdas e danos", depois do acordo alcançado na quinta-feira sobre a entrada em funcionamento do fundo para financiamento de "perdas e danos" resultantes das alterações climáticas.
Segundo o líder da UNOPS, a gestão partilhada entre as duas agências - "uma especialista na componente temática da gestão de riscos e outra especialista em fazer acontecer" - assegura que o financiamento decorrente do fundo resultará nos melhores projetos possíveis.
Segue-se constituição do conselho consultivo
O próximo passo será a constituição do conselho consultivo, com representantes de todos os países, mas Jorge Moreira da Silva acredita que tudo estará a postos para que a Rede de Santiago possa entrar em funcionamento no primeiro trimestre do próximo ano.
"Há uma componente das alterações climáticas que já é inexorável, já não é possível reverter e, por isso, não podemos falar apenas de mitigação e descarbonização, é também importante falar de adaptação, de gestão de crises e de compensação e resposta às crises", sublinhou, recordando que "há casos em que os danos já foram causados".
Os impactos das alterações climáticas são, sobretudo, sentidos pelos países em desenvolvimento, apesar de serem também os que menos contribuíram.
"No último ano, as alterações climáticas produziram uma perda de 300 mil milhões de dólares na economia global, a larguíssima parte desses prejuízos ocorreu em países em desenvolvimento", explicou Jorge Moreira da Silva.
Por outro lado, estima-se que 1.200 milhões de pessoas venham a ser forçadas a deslocarem-se em virtude de fenómenos climáticos extremos, cada vez mais frequentes, acrescentou.
"Finalmente, chegamos a um momento em que estes países vão ser compensados e essa compensação financeira precisa de ser originada por projetos que permitam a reconstrução dos países e a capacidade de gerar mais resiliência futura", concluiu.
Depois do acordo sobre a entrada em funcionamento do fundo de "perdas e danos, vários países comprometeram-se com financiamento que, no sábado, ascendia já a mais de 650 milhões de dólares, de acordo com uma contagem do Natural Resources Defense Council.