O Papa Francisco proclamou, este domingo, como santos, Paulo VI e o arcebispo de El Salvador Óscar Romero.
Numa missa no Vaticano, com os bispos de todo o mundo, o Papa desafiou a Igreja Católica a cruzar novas fronteiras para ir ao encontro de todos, deixando para trás riquezas e a ilusão de segurança”, à imagem dos novos santos.
“Pedimos a graça de saber deixar por amor do Senhor: deixar as riquezas, os sonhos de funções e poderes, as estruturas já inadequadas para o anúncio do Evangelho, os pesos que travam a missão, os laços que nos ligam ao mundo.
Sem um salto em frente no amor, a nossa vida e a nossa Igreja adoecem de «autocomplacência egocêntrica»: procura-se a alegria em qualquer prazer passageiro, fechamo-nos numa tagarelice estéril, acomodamo-nos na monotonia duma vida cristã sem ardor, onde um pouco de narcisismo cobre a tristeza de permanecermos inacabados”, disse o Papa, durante a homilia.
A cerimónia de canonização de sete novos santos decorreu perante bispos de todo o mundo, que participam na assembleia do Sínodo dos Bispos dedicada às novas gerações.
Francisco, admirador confesso de Paulo VI, o Papa que levou até ao fim o Concílio Vaticano II (1961-1965), observou que o novo santo, “mesmo nas fadigas e no meio das incompreensões”, testemunhou sempre “de forma apaixonada a beleza e a alegria de seguir totalmente Jesus”.
“(São Paulo VI) consumiu a vida pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha dele no anúncio e no diálogo, profeta duma Igreja virada para fora, que olha para os distantes e cuida dos pobres”, declarou, perante dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.
“Hoje continua a exortar-nos, juntamente com o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que vivamos a nossa vocação comum: a vocação universal à santidade; não às meias medidas, mas à santidade”, acrescentou.
O Papa considerou “bonito” que neste dia fosse canonizado também o arcebispo salvadorenho D. Óscar Romero, “que deixou as seguranças do mundo, incluindo a própria segurança, para consumir a vida – como pede o Evangelho – junto dos pobres e do seu povo, com o coração fascinado por Jesus e pelos irmãos”.
O mesmo podemos dizer de Francisco Spinelli, Vincente Romano, Maria Catarina Kasper, Nazária Inácia de Santa Teresa de Jesus e do nosso rapaz napolitano Núncio Sulprizio, santo jovem, corajoso, humilde, que soube encontrar Jesus no sofrimento, no silêncio e na oferta de si mesmo.
Na sua homilia, o Papa falou da importância de “passar dos preceitos observados” para uma “história de amor, o dom de si mesmo” ao serviço de Jesus Cristo.
“Não se pode seguir verdadeiramente a Jesus, quando se está repleto de coisas. Pois, se o coração estiver cheio de bens, não haverá espaço para o Senhor, que se tornará uma coisa mais entre as outras”, advertiu.
Francisco realçou que, quando se coloca no centro o dinheiro, “não há lugar para Deus e não há lugar sequer para o homem”.
O Papa pediu a todos os responsáveis católicos a capacidade de deixar de parte “as riquezas, os sonhos de funções e poderes, as estruturas já inadequadas para o anúncio do Evangelho”.
“A riqueza é perigosa e – di-lo Jesus – torna difícil até mesmo salvar-se. Não, porque Deus seja severo; não! O problema está do nosso lado: o muito que temos e o muito que ambicionamos sufocam-nos o coração e tornam-nos incapazes de amar”, alertou o pontífice.
Francisco declarou que os novos santos, “em diferentes contextos, traduziram na vida a Palavra de hoje: sem tibieza, nem cálculos, com o ardor de arriscar e deixar tudo”.
“Irmãos e irmãs, que o Senhor nos ajude a imitar os seus exemplos!”, concluiu.
O Papa celebra a Missa com vestes litúrgicas que foram dos santos Paulo VI e Óscar Romero, recitando ainda o Ângelus antes de despedir-se dos peregrinos reunidos no Vaticano.