O "distanciamento e alheamento" do topo da hierarquia da Igreja Católica portuguesa "contrastam" com "intensidade e gravidade" dos testemunhos, refere a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças, na apresentação do relatório final, esta segunda-feira, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
A Comissão Independente entrevistou bispos das dioceses portuguesas e outros superiores de instituições religiosas e constatou “distanciamento” em relação à crise dos abusos.
Há um “contraste entre o fluxo dos testemunhos que recebemos das vítimas com a revelação de um certo distanciamento e desconhecimento desse mesmo terreno por parte do topo da hierarquia”, foi apontado na apresentação do relatório.
Como se explica? “Jogar à defesa com medo de uma acusação de ocultação? Uma defesa inequívoca de uma posição clericalista e da reputação da Igreja, ou terá sido o momento da realização das entrevistas, no arranque dos trabalhos?”, questiona Ana Nunes de Almeida.
“Houve um momento em que a evidência deste problema tornou-se irrefutável e irreversível", considera a Comissão Independente.
Ana Nunes de Almeida destaca que “a Igreja não fala a uma só voz” e há “uma diversidade interna no seio do topo da hierarquia” que se pode explicar pela “presença ou ausência de mulheres” nas suas estruturas.
A Comissão Independente validou um total 512 testemunhos de abuso sexual na Igreja Católica nas últimas décadas. O número foi avançado por Pedro Strecht, coordenador desta comissão, na apresentação do relatório final, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.
O pedopsiquiatra revelou que "foram recebidos um total de 564 [testemunhos]. Estes testemunhos, como depois iremos explicar com toda a cautela, permitem chegar a uma rede de vítimas muito mais extensa, calculada num número mínimo de 4.815 vítimas", adiantou.
De acordo com Laborinho Lúcio, foram enviados para o Ministério Público 25 denúncias de vítimas de abusos que ainda não prescreveram.
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: