Mais de 100 doentes estavam esta tarde na sala de observações da urgência do Hospital Amadora-Sintra a aguardar internamento, quase o triplo da sua capacidade, revelou o ministro da Saúde, anunciando várias medidas para mitigar a situação.
O ministro da Saúde e a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, visitaram o Serviço de Urgência Geral do Hospital Fernando Fonseca, que serve os concelhos de Amadora e Sintra, onde todos os enfermeiros pediram escusa de responsabilidade e os chefes e subchefes das equipas deste serviço estão demissionários desde novembro, por considerarem estar em causa a qualidade assistencial e a segurança dos doentes.
No final da visita, Manuel Pizarro disse aos jornalistas que "o problema mais difícil" do serviço de urgência não é tanto o afluxo, "que é grande", mas a dificuldade de internar doentes a partir da urgência para as enfermarias "num hospital que está permanentemente cheio".
"Isso é que faz com que hoje haja 108 doentes na sala de observações do serviço de urgência quando deviam lá estar, no limite, uns 40", o que, vincou, cria uma pressão muito grande.
Pizarro explicou que os doentes que estavam na sala de observações tinham indicação de internamento. "São doentes que precisam do apoio hospitalar que dão muito trabalho aos enfermeiros, aos médicos, aos outros profissionais", vincou.
Por isso, defendeu ser necessário criar condições para que possam ser internados "o mais rapidamente" possível, o que exigirá, provavelmente, a colaboração de outros hospitais e também uma "mais rápida articulação" com o setor social para que se possa libertar espaço no hospital para estes doentes.
Segundo o governante, vão ser tomadas nos próximos dias novas medidas, em conjunto com os profissionais e com a administração do hospital, para aliviar esta situação.
Algumas medidas já estão em curso e a produzir melhores resultados, como o aceleramento das altas dos utentes que não estão internados por indicação médica, disse.
Casos graves vs casos sociais
Em declarações à agência Lusa no final da visita, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros disse que pediu ao ministro para a acompanhar nesta visita devido às escusas apresentadas por toda a equipa de enfermagem e para que "as pessoas sintam que não estão sozinhas".
Ana Rita Cavaco defendeu que são precisas soluções para os doentes que precisam de cuidados, mas já não estão em doença aguda.
"As administrações gostam de chamar casos sociais. Na verdade, não são casos sociais. São pessoas que não estão em doença aguda, têm condições para ter alta do hospital, mas precisam de cuidados de enfermagem, sobretudo de cuidados de saúde, 24 horas por dia e isso não é compatível com um lar, porque os lares da Segurança Social não têm essa função", defendeu.
A bastonária revelou que neste momento há lares da Segurança Social que têm 90% de doentes acamados, o que significa que já não são lares, mas deviam antes pertencer à rede de cuidados continuados.
"Os espaços de cuidados continuados são muito poucos e o que nós temos de fazer enquanto país e que o governo tem de se preocupar rapidamente é com esta questão do envelhecimento e repensar a rede de cuidados continuados em conjunto com a Segurança Social", defendeu.