Lisboa é uma das cidades europeias onde é mais difícil arrendar casa, conclui um grupo de especialistas da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, que comparou o valor das rendas e os rendimentos entre Lisboa, Barcelona e Berlim.
O ponto de partida desta investigação é a taxa de esforço de uma família com um dependente a viver num apartamento T2.
Os especialistas defendem que essa taxa de esforço, ou seja, o valor gasto pelas famílias na mensalidade do crédito à habitação ou no arrendamento, não deve exceder os 30% do orçamento mensal das famílias.
Em Barcelona e Berlim, a taxa de esforço ultrapassou ligeiramente os 30%, mas em Lisboa os especialistas concluem que a taxa de esforço para arrendar casa é de 58%, ou seja, praticamente o dobro.
Em declarações à Renascença, o autor deste estudo Aitor Varea Oro fala de uma batalha desigual: “Existe uma primeira desigualdade económica que é: os ordenados das pessoas em Portugal são mais desiguais do que noutros países e, depois, há uma segunda causa estruturante: os apoios públicos para a criação de habitação a custos controlados cria uma segunda clivagem, ou seja, não são igualmente acessíveis para os pequenos proprietários, para os técnicos que querem trabalhar nesta área. Estamos a assistir a uma batalha desigual.”
Por outro lado, este investigador da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto lembra que, nos últimos anos, a própria legislação facilitou a especulação imobiliária.
“O problema não é apenas o turismo. Há uns anos foi criado um enquadramento que facilitava a vida a certo tipo de atores mais ligados à especulação imobiliária, à indústria do turismo… Este mercado é criado pelas regras promovidas pelo próprio Estado, com a alteração ao regime das rendas, criação dos vistos gold, alteração às regras de reabilitação urbana, tudo o que se fez no âmbito do alojamento local, criaram-se condições a partir das quais certas pessoas, entidades e interesses tinham muito mais facilidade para se mexer nesse tabuleiro que é a cidade, deixando de fora o cidadão comum”, afirma Aitor Varea Oro.
O investigador considera que estamos perante um problema sério que exige ação por parte dos poderes públicos. Caso contrário, diz este especialista, é a própria democracia que está em risco.
“Se o poder público não consegue dar respostas adequadas, podemos assistir a uma deslegitimação do poder público e a uma legitimação de outro tipo de soluções e de personagens, que já estão a aparecer um pouco por todo o lado, e que podem complicar um pouco mais o cenário em termos de degradação da nossa democracia”, adverte Aitor Varea Oro.
Para resolver a crise na habitação é necessário mais empenho público, “desde o presidente da junta até ao Presidente da República”, e um conjunto de receitas em simultâneo: facilitar o acesso ao financiamento, mais habitação pública, limitar a especulação, defende o autor do estudo em declarações à Renascença.